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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Um olhar filosófico sobre as manifestações de Junho de 2013



...panem et circenses...ou pão e circo para o povo...


                                                 O gigante acordou.  Parecia que tudo estava bem e que o BRASIL era o país das maravilhas. Contemplávamos o mal bovinamente ou  as notícias de corrupção, de inflação, de desmandos e de violência como se tudo isto fosse coisa normal. De repente, o gigante acordou de seu sono letárgico. Parecia que ficaria eternamente deitado em um berço esplêndido.


Sobrou para a TIM que foi comparada com o transporte público



Reinvindicaram até a legalização do aborto




É um dos melhores cartazes. O povo está indignado com o comportamento dos políticos corruptos



                                                 O poder das redes sociais. Os desonestos há alguns anos não contavam com o poder das redes sociais. A data de Junho de 2013 ficará na história do país como a entrada das redes sociais como ferramenta da população para poder se mobilizar melhor.  A expressão Saímos do Facebook é perfeita ao pinçar esta característica das manifestações ou elas se organizaram nas redes sociais.  O Brasil depois de Junho de 2013 nunca mais será o mesmo.

As redes sociais permitiram que a população se organizasse e
desse uma resposta aos desmandos. Este cartaz resume o poder das redes sociais

               ...a palavra correta é indignação...
Por esta foto percebemos que os manifestantes frequentam redes sociais,
são jovens, estudam e não são simplesmente baderneiros como muitos insistem dizer.
                                                    A imprensa chapa branca. A imprensa no Brasil não é confiável. Não é confiável em razão de precisar de dinheiro para se manter. Em razão disso se uniu aos conservadores e ficou realçando a violência da minoria e não procurou discutir o motivo do povo ter saído às ruas. Os motivos estes sim, devem ser discutidos à farta e à saciedade. Foi moralista ao destacar a conduta dos manifestantes que impediam outros de depredarem e não chamar para o debate da crise que chegou ao Brasil. Esta é a verdadeira realidade do país. Qual a verdadeira causa das manifestações? Está tudo bem no país? Assim, fiquem atentos e observem as notícias e veja como elas são manipuladas e fogem do cerne da questão. Não entre na onda da interpretação superficial do que ocorreu. Foi algo grave e profundo. Ficará na história do país. Não foi uma baderna de jovens, foi indignação. A palavra correta é indignação. Preste atenção em quem ficou contra os manifestantes, na sua maioria estão apenas preocupados com o funcionamento das coisas como vinham ocorrendo (status quo ante) e estão com medo dos problemas econômicos ou com dinheiro apenas simplificando o dizer. Apenas por dinheiro ou por comodidade, não justifica ser contra. Certamente, já estamos perdendo  em termos econômicos mas algo de bom ocorreu e pode mudar o futuro com menos corrupção  e no futuro distante colheremos melhores frutos. Para quem investe em ações as manifestações é algo terrível, uma hidra...só que dinheiro não é tudo.
                                                      

                                                       As vozes das ruas. Pelo que ouvi o povo está farto da corrupção, da violência que fica impune, dos meios de transportes que são caros e ineficientes, com a precariedade das escolas, com o sistema de saúde, entre outras revindicações.


                                             


Este cartaz resume um dos pontos das revindicações.
O país está sendo roubado pela corrupção e incompetência
e, ao contrário do que muitos pensam, existem pessoas revoltadas com a situação 


Neste cartaz estão pedindo cadeia para os mensaleiros.
A impunidade é uma das indignações da população.





                                            Fifa,  Futebol e televisão, o circo do povo. Em roma para conter as revoltas os governantes davam circo e pão ao povo. A FIFA nada mais é que um circo sofisticado globalizado. Os  velhacos sabendo da fraqueza da população por futebol, novelas ridículas e outras diversões que emburrecem a população não perdem tempo. Todos ganham hipnotizando a população com o seu circo e na construção dos estádios caros. Artistas, entre aspas, também se aproveitam unindo a políticos, faturando, e contribuem para que o espetáculo continue. Preste atenção nos artistas que apóiam os políticos corruptos.
A expressão: O povo decidiu, queremos o melhor para o Brasil é fantástica.





 



                                          
                                                              Panem et circenses é a forma acusativa da expressão latina panis et circenses, que significa pão e jogos circenses, mais popularmente citada como pão e circo. Esta foi uma política criada pelos governos romanos. Esta política de pão e circo caracterizava pela distribuição  de comida e diversão ao povo, com o objetivo de acalmar a população revoltada contra os governantes. Espetáculos sangrentos, como os combates entre gladiadores, eram promovidos nos estádios para divertir a população; nesses estádios, o pão era distribuído gratuitamente. O custo desta política foi enorme, causando elevação de impostos e sufocando a economia do Império.


                                                              Poeta romano Juvenal é o autor. A frase teria sua origem nas Sátiras de Juvenal.




Só um mal intencionado discordaria deste jovem
 
    ...o rei está nú...

O governo constrói estádios e esquece da segurança, saúde e educação. Isto é fato

Este cartaz mostra claramente que nem todo mundo é fanático por futebol. Lembra a famosa expressão: - O rei está nu
Com certeza a maioria preferiria escolas à copa do mundo. Foi um tapa na cara da FIFA.
 Os Senhores da Fifa estavam acreditando que seriam recebidos como deuses na Parvolândia.
Foi bom vê-los sem prestígio e questionados na Copa das Confederações.
 Imaginem a antítese da Copa do Mundo de 2014. Se a copa do mundo é uma tese, não podemos por nada neste mundo dispensar a antítese, mesmo que houvéssemos escolas maravilhosas, nunca se esqueçam disso, as ideias se completam.  



                                                              As manifestações de Junho de 2013 foi um cisne negro na vida dos políticos e dos ionvestidores. No texto  Um cisne negro em nossa vida escrevemos:


 "Black Swan. Nos investimentos a expressão black swan ou cisne negro significa o exsurgimento de um fato visceralmente inesperado que pode levar o investidor a se haver com grandes perdas ou problemas. São características do cisne negro a surpresa do acontecimento e o impacto causado. Destarte, temos a surpresa e o impacto como seus elementos fundamentais. Na verdade um black swan nada mais é que o estudo científico da Teoria do Risco. Percebemos no nosso empirismo que da mesma maneira que o brasileiro não gosta de abordar a temática da morte, não gosta de abordar riscos em seus investimentos. Preferem bater na mesa por três vezes a conjurar os maus agouros, algo como Alice deslumbrada no mundo das maravilhas. Só que este comportamento traz uma perda ao planejamento estratégico com metas ousadas e manejamento de riscos. Se algo é bom e perfeito, se o investimento é acima de qualquer suspeita e perfeito, nunca podemos olvidar, no entanto, que tudo que é verdadeiro e perfeito também merece o questionamento ou a destruição de suas teses. Os filósofos já vislumbraram isto, pois o mundo é física ou puro movimento em que as coisas se pagam umas com as outras em mudanças constantes. Tese sem antítese é um pulo no precipício das trevas, a própria perda do movimento, da mudança. É negar a vida e tentar encontrá-la no paraíso perdido post mortem."




                                            O direito de manifestar é constitucional. É difícil de entender coisas simples como este direito sagrado. Este direito vem desde a antiguidade e é uma espécie de revolta algo como descontentamento. O estado, através das forças de repressão nuinca entederão isto com clareza. Falta de preparo constitucional. O cartaz abaixo  denuncia a violência do governo no trato das manifestações. Jamais deveria ter sido usado spray de pimenta contra os manifestantes.

 
 
 
 
 
 
 


Cartaz contra a violência policial


                                                             As manifestações foram um cisne negro na vida dos políticos que estavam bem tranquilos e dos investidores. Os políticos estavam imaginando que o povo iria ficar entretido com futebol e que em 2014 os mesmos de sempre seriam eleitos mentindo e comprando votos. Parece que as eleições serão quentes, a chapa esquentou. No lado econômico adeus investimentos. Quem tem dinheiro vai colocar a barba de molho, interromper projetos e observar no que isso vai dar. Só que um país em stand by cria um ciclo vicioso, ou seja, se as coisas estão ruins, ficarão piores ainda em razão da interrupção de projetos. Quando a roda econômica começa a voltar para trás nenhuma medida econômica é capaz de detê-la. Dias sombrios virão. Dona Dilma não tem nenhumna competência para lidar com a crise, só almeja reeleição a qualquer custo em cima da ignorância da população, triste fato escondido pela imprensa. O correto era apertar cinto. A combinação Brasil em crise e o resto do mundo na mesma situação pode ser devastadora para o nosso país como elo mais fraco no mundo globalizado. A marolinha deixará saudades.
                                                        

domingo, 7 de abril de 2013

Pujança e miséria do ativo LLXL3 ou LLX

               

             

                                                             O Porto do Açu. As obras do porto começaram em outubro de 2007 e envolvem uma área total de 90 quilômetros quadrados. Com profundidade inicial de 21 metros, prevê um píer de 17 quilômetros, capaz de receber 47 embarcações.

 
 
                                                                                    Porto em águas rasas. O porto do Açu em São João da Barra no Estado do Rio de Janeiro é construído em águas rasas, isto demanda investimentos maiores pela extensão do pier. Outro fato importante pela análise das imagens e fotografias é que o local parece cercado por água por todos os lados, um pântano, e que não vai dar à lugar nenhum. Para nós a localização perfeita de um porto é fundamental para o seu sucesso. Não basta ter apenas uma área imensa. Os custos para transformar um local em algo de primeira podem ser estratosféricos.


                                                                    Sr. Fato Relevante.  Para conquistar a confiança do mercado, as empresas de Eike usaram e abusaram dos fatos relevantes, tal expediente não vai de encontro à lei. Informações podem ser um benefício para quem investe e para os analistas. Por outro lado pode manter o ativo artificialmente valorizado e incutir esperanças infundadas. Por isso, foi apelidado pelo mercado de Sr. Fato Relevante.  O empresário foi multado em R$ 100 mil pela CVM, por ter falado demais sobre o IPO da OGX. Depois do grande fracasso com a OGX em 2012 adotaram estratégia diferente ou falam pouco.  
                                                      

                                                             

                                                              Nunca se esqueçam. Na data de 29/12/2911 fechou o ano valendo R$ 3,37, já em 2012 bateu o martelo em 28 de Dezembro no valor de R$ 2,40. Era para ter começado a operar em 2012, ficou só nas promessas da empresa. A inauguração foi remarcada para o final de 2014.


                                                             Fechamento do capital em 30 de Julho de 2012. Anunciou o fechamento do capital e propôs o pagamento de R$ 3,13 por ação. Posteriormente, o Bank Of América avaliou o preço justo do ativo entre R$ 6,94 e R$ 7,63. A empresa, então, desistiu da OPA.


                                                              O dia em que o ativo subiu 27,59%. Foi na data de 29/11/2012, um dia antes a empresa anunciou um acordo com a General Electric. Fechou valendo R$ 2,22, só que antes disso tinha caído horrores;


                                                             Contrato com a Wärtsilä em março de 2013. A LLX assinou com a finlandesa Wärtsilä contrato para instalação de unidade industrial em canal do Superporto do Açu. A empresa pretende investir 20 milhões de euros na unidade do Açu, com previsão de gerar aproximadamente 100 empregos. No contrato, a Wärtsilä fará o aluguel de 29.300 m2 de área no canal do TX2 por 30 anos, renováveis por mais 30. A Wärtsilä instalará uma unidade de montagem e produção de grupos geradores e propulsores Azimutal, além de oferecer serviços voltados a clientes nas áreas de energia e propulsão marítima.


                                                             O Porto do Açu ameaça afundar literalmente, notícia de 7 de abril de 2013. Esta circulando no mercado a notícia que o porto construído pela LLX, braço logístico do grupo EBX,  está afundando ipsis litteris. O estaqueamento, um tipo de alicerce, do estaleiro começou a ruir. A notícia foi divulgada pela revista Veja. Obras de emergência estão em andamento para evitar que o porto afunde. Se a notícia se confirmar é um black swan que promete muito na segunda-feira. Dizem que faltou estudo do solo. Será? E no dia 8 de abril o ativo caiu 5,39% batendo o martelo em R$ 1,93. A queda não foi maior em razão da empresa ter desmentido esta notícia e ter surgido outra que o governo irá ajudar as empresas de Eike através da Petrobras. O que dissemos no início deste texto sobre o local do porto por simples análise de imagens tiradas do alto conjugado com esta notícia nos deixa temerosos em relação ao futuro.


                                                             Ajuda da Petrobras. Em março de 2013 surgiu uma polémica se o governo deve ou não ajudar o grupo EBX e LLX no meio. Há opiniões a favor e contra e outras entre as duas. Uma opinião interessante é a do   Ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Carlos Lessa, o primeiro a assumir esta função na gestão petista da Presidência da República, iniciada em 2003. O homem defende que o governo estatize ativos do grupo EBX, como o porto. Das suas palavras pinço uma pérola do seu pensamento que merecia muita meditação:
 
                                                   O governo deveria simplesmente estatizar o Açu e a mina de ferro para capitalizar a Vale com uma nova reserva e um novo porto para exportação. O grupo Eike foi criado por uma bolha especulativa de dimensões colossais. A estatização é uma solução bastante viável

                                                       Se houve uma bolha de dimensões colossais, devemos todos nos tremer no Brasil, não sobrará nada. Pois, se houve bolha colossal no grupo EBX, está bolha não ocorreu em outros setores e outras empresas? Vai faltar dinheiro para outras estatizações? A Petrobras ajudará a Lupatech, a Inepar, a Queiroz Galvão, a HRT e outras. Fica as perguntas...

quinta-feira, 28 de março de 2013

O Morto


 
                                                                           
A palavra cemitério deriva do latim coemeterium , que significa fazer deitar e foi empregada pelos primeiros cristãos para designar os terrenos destinados ao sepultamento dos mortos. Para quem gosta de necroturismo, o Cemitério Nacional de Arligton nos Estados Unidos é uma boa pedida. Localiza-se na Virgínia, é o mais tradicional cemitério militar americano. A extensão da área é de 4000 m2, onde estão enterradas mais de 360 mil pessoa. Combatentes de todas as guerras americanas estão aqui. Certamente o Morto gostaria de dar uma passadinha por aqui em seu sonho metafísico e visitar o túmulo  do ex-presidente John F. Kennedy.


                                                             
                                                                           ...Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas...(Machado de Assis, 1.839-1.908. O bruxo do Cosme Velho)


                                                                            O mais certo dos fatos físicos era que o defunto havia morrido de morte morrida. No seu velório estavam a sua mãe chorosa vestida de preto, outros parentes compadecidos, os adjacentes vizinhos e os costumeiros políticos paroquiais que não perdiam estes rituais por nada nesse mundo. O Caixão era vistoso, de última geração. As velas aromáticas com folhas tenras de erva-cidreira em volta iluminavam o início do caminho do nosso rijo de cujus. Este estava impecavelmente bem-vestido com a sua roupa domingueira e tradicionalmente coberto com as devidas pétalas de rosas brancas e vermelhas. Todas estas circunstâncias fúnebres davam sentido às sombras gloriosas e inarredáveis que encobriam sua precoce e inexplicável morte.

                                                      No meio da cerimônia, sem mais e sem menos, sem nenhuma explicação científica, o defunto, moço levíssimo como o rebelde ar, levantou a sua mão esquerda, maravilhosamente lívida, em slow motion e apertou com força a sua boca como quem tentava segurar alguma coisa inadiável e, depois de um punhado de tempo, abandonou este gesto de aspecto misterioso, soergueu-se serenamente e, colocou uma perna para fora do caixão e depois a outra, ficando ali sentado por alguns segundos e, em seguida,  saltou do féretro espalhando pétalas de rosas por todos os lados. Tentava sorrir, como não sentia o corpo,  ficou  dando uns pulinhos de alegria para sentir as pernas vivas, tudo com o intuito de recuperar a elástica e prazerosa infantilidade do corpo perdida tragicamente. Ao depois, girou os olhos como se fosse uma filmadora e encarou o vão da porta sólida com olhos encantados de sonhos explícitos de fuga e planejou dar às de vila-diogo daquele ambiente funesto, fugir do misterioso velório. Contudo, logo desistiu da empreitada, viu que as suas forças estavam nos limites, tudo agravado pelos pulinhos, sentia que não conseguiria dar mais nenhum passo.

                                      Sua mãe sempre vigilante na cerimônia, percebendo a manobra, se aproximou do caixão e, delicadamente, pegou-o pelo braço e lhe deu um longo abraço, um abraço memorável em que olhava para o seu filho com rosto apaixonado e o apertava seguidas vezes, o que chamou a atenção de todos, mormente, dos políticos. Estes ficaram boquiabertos, atentos e surpresos com a sua técnica perfeita de abraçar, com a verdadeira espiritualidade e sinceridade de um abraço, em resumo, um abraço energético e convincente que desmoronaria qualquer resistência humana por mais sólida que fosse. E ficaram imaginando como poderiam imitá-la. Sua mãe, com uma voz suave sentenciou tentando resolver as coisas sem escândalo:

 
                                          -Never more, você está morto, volte imediatamente para o seu lugar, tudo já está preparado, tenha fé! Por outro lado, a morte e os devidos impostos são as únicas certezas matemáticas da vida! Obedeça, revertere ad locum tuum, volte para o seu lugar! Nunca se esqueça, você foi desta para uma bem melhor e saiba que isto é um ganho!

                                            O dos pés-muito-juntos olhou-a meigamente, sentia grandes dificuldades em falar naquele momento místico, tudo estava confuso  e tinha embaraços em compreender o que ocorria, na verdade só pensava em fugir e caminhar pelos campos ouvindo o canto dos passarinhos. Sentia frio, mal ouvia e enxergava com dificuldade.  A delicadeza do assunto levantado por sua mãe o deixou mais atônito ainda, mas mesmo assim disse amealhando as adrenalinas:

                                      - É você mamãe! Disse meigamente, mas com dificuldades, quase não conseguia vê-la, os seus olhos estavam, ainda, muito lívidos e completou a interrogação, antes que ela respondesse:

                                        - Com todas as veras, não vejo corvos, fui pego de calças curtas, com a boca na botija, no entanto, tudo, mas tudo mesmo, é um sorridente, digo, ledo engano! Na verdade, ainda assim, prefiro passar a vida pagando os esfoliantes e necessários impostos! E completou:

                                          - Quanto ao que seja o MELHOR há dúvidas sérias sobre o assunto. Na dúvida profunda, sistemática, metódica, enfim, na dúvida cartesiana, vale o generoso princípio do in dubio pro reo. Em suma, na dúvida verdadeira, o morto deve ser beneficiado. Sua mãe, rosto profundamente magro, olhos vazios, lábios amargos, esboçou uma expressão contrafeita com as objeções de seu filho ingrato e reforçou:

                                          - O pensamento rijo, nestas cerimônias, cairia lhe muito bem!  – Ao que o morto, encabulado retrucou:

                                          -Estava regiamente rígido, lívido como a neve, pronto para os apetitosos vermes, tentando o sono mais perfeito, necessário nestas horas difíceis de transição, mas o cheiro de erva-cidreira com óxido de carbono não me fez bem, estava me sentindo uma corda esticada em todas as direções, parecia até que o caixão me apertava. Perdi  a concentração, a calma necessária,  para a passagem eterna. Foi tudo culpa da erva-cidreira. Neste meio tempo, o nosso querido comedor-de-capim-pela-raiz olhou para um grupo de políticos sorridentes, os quais acenaram para ele. Sem forças, respondeu sem muito ânimo aos cumprimentos afetuosos. Sua mãe encantada com a generosidade convincente dos políticos esclareceu:

                                                     - Nessas horas turvas, cinzentas, só podemos contar com eles, são sempre úteis. Como são fofos, vieram em peso, são da espécie conhecida como políticos carregadores de caixão, vai haver até revezamento de alça 4x4, trabalharão em equipe. Têm a vantagem de conhecerem todo mundo, até pelos mortos.


                                                        Tomando um fôlego, -Todos, à unanimidade me consolaram dizendo que você foi desta para uma bem melhor, o que me deixou muito aliviada e com fé inabalável na erosão da morte. Os políticos ficarão em evidência no seu enterro e por isso estão ansiosos. E certo que se desentenderam no início, coisa perfeitamente normal, quando alguns deles quiseram instituir hierarquias de políticos municipais, estaduais e federais. Mas como são especialistas em acordos, mesmo em situações críticas, foi fácil para mim pacificá-los. Argumentei com astúcia que nos velórios todos são iguais, que os velórios nasceram para todos, como o sol. Expliquei que havia velório suficiente para todos. Observei, ainda, dando tapinhas nas costas de cada um, que haviam outros enterros urgentes para tocarem. E tudo ficou na santa paz. Você não viu e nem ouviu, mas os políticos, depois dos desentendimentos iniciais, passaram a se comportar maravilhosamente bem, sem nenhum ressentimento. Todos ficaram concentrados em você, por incrível que pareça, não falaram de ciências política, sexo ou futebol, nem contaram as piadinhas básicas, misturando tudo ou morte com o infantilizado riso. Estava muito satisfeita e queria apenas tocar o enterro.

                                                           -Voltando às velas, é estranho, escolhi pessoalmente o fabricante que me disse que eram feitas de folhinhas tenras e selecionadas de erva-cidreira, calmante natural, e, com certificado de garantia tudo de acordo com o Código de Defesa do Consumidor. Não tenha nenhuma dúvida que os fatos se sucediam na mais perfeita normalidade. O poderoso silêncio estava sendo construído e provocava a meditação profunda. Sabia que isto ajudaria a sua alma a perambular pelo caminho da luz e que este duraria uma eternidade e uma ínfima fração de segundo, uma vez que o tempo alargado e comprimido é uma essência deste lugar. Nesta estrada de luz intensa que leva aos confins do universo, ao além e tambem ao aquém, onde não existe mais nenhuma separação entre o tempo e o espaço, entre as coordenadas, você acabaria encontrando com facilidade a tão sonhada porta da paz. Depois  de atravessá-la, sem abrí-la ou bater, o repouso merecido estaria à sua espera, em um leito de energia cósmica flutuante. A alma no final da estrada estará fraca ou age como  um elétron com força negativa, pronta para o desfecho final. Este tálamo cósmico é tal como um imã ou um campo eletromagnético e a sua força atrairá a alma para as suas entranhas e a absorverá com os seus eflúvios ou perfumes. Aliás a palavra imã vem do francês aimant que significa amante. E ali permaneceria em stand by, atraída, com as mão cruzadas no peito, aguardando, placidamente, o novo chamado.  É tão linda a transição, tão confortável o leito, dá gosto ficar pensando sempre nela o dia todo. Acho que algo  errado ocorreu e o lado negro da força prevaleceu. Sem dúvida, havia aqui uma sintonia fina e perfeita entre os dois mundos, o mundo do um e do zero, com orações, rezas, velas e coroas de flores.

                                                                   A furto, picado de estremecimentos friorentos, o nosso falecido namorou a porta com olhinhos angustiados, como algo muito distante, só pensava em fugir,  e retrucou desanimado:

                                                                   - Só Deus sabe o quanto compreendo os políticos, é dever deles se meter em tudo, psicologicamente falando eles são perturbados por estas emoções passageiras, sem embargo disto, serviços oferecidos cheiram mal, contudo, reconheço que sabem surfar nas ondas, na inevitável morte, enfim, não queria dizer, mas sinto que não estou preparado. Sei, perfeitamente, que é pura bobagem ficar perguntando se defunto quer cova. E completou olhando esperançoso a porta:

                                         - Se se fosse possível, o meu grande sonho metafísico era abandonar este corpo imprestável, deixa-lo de lado para ir fazer outras coisas; esquecer definitivamente esta matéria usada e passada de mão em mão da maternidade ao velório, e ficar por aqui mais um bom tempo. Para livrar do meu corpo, faria sacrifícios com alegria, ajudaria os  nobres políticos no revezamento de caixão  com alça 4x4. Levaria o corpo ao cemitério com a rapidez de quem joga o lixo fora, colocaria o féretro no buraco certo, e com uma pá cobriria-o com  o pó para que este recebesse o que é seu e ficasse em paz fertilizando a terra com a matéria orgânica em decomposição. O melhor de tudo, o ápice,  seria a impagável volta para casa, já livre do maldito corpo, que não passava de um cardápio de dores intermináveis, aproximar da porta, não pegar na maçaneta, transpô-la como energia espiritual, flutuar pelo ar feliz como um pintinho ciscando em um monte de esterco e vagar pelos comôdos, e, depois desta experiência única, desta despedida, vagar sem rumo pelo mundo, pelo caminho do sol, como uma alma sem dono, sem nada que pudesse nos incomodar. No máximo faria algo que nunca pude fazer em vida ou um necroturismo pelos cemitérios mais famosos do planeta. Como bagagem gostaria de levar apenas uma foto minha da adolescência 3x4, já isto, sei que é impossível uma vez que é regra universal não podermos misturar matéria e espírito, deu para aprender este princípio pelo menos quando estava ali no leito de madeira. Ah, como seria maravilhoso! Sei perfeitamente que o corpo precisa da morte, que não é certo nem em pensar não querer morrer, ficar para Galo de São Roque ou para a semente. Dito isso, suspirou profundamente e já se sentia bem melhor, já estava mais corado, com alguma circulação sanguinea nos vasos e artérias, o seu coração reagia em taquicardias esporádicas, já meio preparado para a tão sonhada fuga.  

                                          Sua mãe ficou indignada com estas idéias de fantasmas do fenecido, queria matá-lo, estava enfurecida como um demônio. Pensava, ora essa, ninguém está preparado, todo mundo diz isso, é sempre a mesma coisa, uma ladainha interminável, se a morte aceitasse este tipo de defesa nnguém mais morreria neste mundo, haveria um congestionamento de corpos e uma escassez de almas, um desequilibrio infernal entre demanda e oferta. A mãe a tentar convencer o filho:

                                            - A arte do desaprendizado do corpo é difícil, ele gosta de hábitos, se nao fossem os hábitos do corpo a vida seria mais difícil, e isto acontece com todos, sem exceção. O hábito cravado na consciência é um bem e um mal, pois o bem não fica sem o mal e o mal adora se aproximar do bem, o mal, digamos assim,  o efeito colateral do hábito é contaminar o pensamento com ideias retilíneas e uniformes. Voltando ao velório, o seu ritual, até você estragar tudo, foi muito bonito com a MULTIDÃO sempre em silêncio, e, a FILA, em sua essência bovina, assinando o livro de condolências, dava gosto, devia ter visto; quanto ao caixão não se preocupe,  é ecologicamente correto, biodegradável, um novo lançamento, pode ter certeza que afrouxa com o uso. Não temos como fugir, a essência da vida é comer a si mesma, uma espécie de lei do eterno retorno.

 
                                              Em seguida o nosso Morto confuso com as idéias extremamente racionais de sua mãe que lhe desgostavam, tentando desviar o foco do diálogo, falar de literatura, olhou para alguns bons palmos acima do conto, bem no seu início e, pálido, surpreso com o que lera sentenciou:

                                         -Gostei do epíteto, do epitáfio! exclamou.

                                        A mãe, em êxtases de orgulhos, retorquiu:

                                        - É do Machado, ajudei a escolher, já faz mais  de um século que se foi, sinto muitas saudades dele! Ao que o de cujus respondeu:  - O corte é afiado, uma potência.


                                           O falecido, respirou fundo, ergueu os ombros, abriu os olhos e completou:
                        

                                                                  - Enfim, estou com muito medo, não queria falar deste assunto, confessar, mas na verdade tive pesadelos confusos e a erva-cidreira no caso, só fez piorar as coisas. No meu sonho o nosso tempo foi reciclado, foi arcanamente aprofundado e alargado e se confundiu com o próprio espaço em um abismo sem fim, se transformou em um aspirador de pó gigante e maldito sugando toda a vida e eu como vítima deste fenômeno sonhei com um cachorro amarelado, o qual gemia no quintal com ânsias sinceras de vômito. E continuou:



                                                                      - O bicho estava muito doente, magro, arfava, espumava e ria para mim e depois de muito lidar com os seus problemas estomacais lançou um vômito biliar, aquele com conteúdo amarelo-esverdeado, mas tinha na verdade odor pútrido do vômito fecalóide. O cheiro era horrível e espalhava como um veneno por todos os cantos  e o mais aterrador é que foi em forma de um jacto poderoso, indicando que o cão estava com pressão intracraniana, prestes a chegar a óbito;


                                                                       - E depois do vômito, do grande alívio do corpo, da purificação, inesperadamente, para minha surpresa, no momento em que eu pensava em levar a mão à boca, lambeu tudo de volta na crença alegre de que neste mundo nada se perde, tudo se transforma, por isso o chamo de cachorro lavosieriano. Se não bastasse tanto sofrimento, um novo vômito canino se sucedeu para o meu desespero...levar a mão esquerda à boca foi inevitável...

                                                                         Neste momento, a mãe do falecido interrompeu o diálogo e levou a mão direita à boca e a apertou com firmeza como quem tentasse segurar alguma coisa inadiável e foi direto para o banheiro, a retornar alguns minutos depois, com expressão aliviada, mais leve, e,  exclamou:

        ...a essência da vida é comer a si mesma, uma espécie de lei do eterno retorno...
                  
                                                        - Já entendi tudo, chega de vômitos. Meu Deus, como você estava a sofrer filhinho! Tudo explicado, na verdade, este pesadelo ressuscitaria qualquer defunto com qualquer tipo de rigidez cadavérica.  Vômitos, nada é mais pior que isso, embora nunca tivesse ouvido falar antes que defuntos tivessem pesadelos! Acredito que isto foi turbinado pelo fato de sua paixão por cachorros, o seu sentimento de pena por estes bichinhos cheios de pulga, principalmente os de rua, isto sempre me comoveu, poucas pessoas tem esta sensibilidade desenvolvida em favor dos fracos e oprimidos, Então foi isso, tudo explicado, pensei em coisas piores, deixa pra lá. Veja bem, vamos colocar a casa em ordem, temos que conformar com isso que ocorreu, a essência da vida é comer a si mesma, uma espécie de lei do eterno retorno. Por isto este mundo não presta, tudo ilusão.


                                                                Em verdade sua mãe estava perplexa com tanta teimosia em relação à morte. O do paletó-de-madeira tentou tomar a fortaleza da porta, em ação de fuga, quando foi imediatamente segurado pela violentíssima MULTIDÃO que acompanhava, tudo sem nnca entender nada, que aos berros simplificados de que enterro não esperava ninguém neste mundo, deu nele uma baita de uma sova. O morto recebeu murros bem dados na cara, chutes no traseiro, pauladas na cabeça, pedradas, pescoções, cabeçadas, cadeiradas, rasteiras e outras injúrias, tudo à farta e à saciedade. Foi um festival de violência no velório para que esquecesse a sua ideia de fuga. O morto apanhou tanto que caiu desmaiado e sangrando o resto do choque hipovolômico, completamente sem vida. O falecido na queda cadavérica final não ergueu um dedo sequer em sua defesa, experimentou apenas um leve arrepio ao concluir no último neurônio que qualquer possibilidade de fuga era impossível. Sem delongas, inerte, foi levado pela Multidão feroz de volta para o paletó-de-madeira de última geração e arrumado com as regras dos comportados desfalecidos ou melhor recebeu maquiagem que disfarçou a violência e depois veio o florista com as suas mãos leves que espalhou com delicadeza pétalas brancas e rosas ao longo do corpo.

                                                                  Do narrador.  Foi aí que despertei. Tudo não passava de um sonho bobo. Coloquei a mão esquerda na boca e a apertei com uma força descomunal, tentando evitar algo, e, em seguida, despejei os pés solertes para fora da cama com agilidade e sai correndo para o banheiro. Um bom descanso a todos e muita paz.  The end.
       

 
                                                                       Ctrl Z, autor
          
 

           Dificuldades com o Morto:


1 - De cujus = morto

 2 - revertere ad locum tuum= voltar para o seu lugar            
 
                         3. Never more= nunca mais                  

  4. In dubio pro reo= na dúvida em favor do réu, dogma jurídico

 
5. Lavosieriano=de Lavosier, químico francês, 1757-1827, identificou e batizou o oxigênio

 6. Stand by=compasso de espera


Ainda para quem gosta de necroturismo Père Lachaise é o cemitério mais famoso da França. Possui 500 mil m2 e ali  estão túmulos famosos, como os de Oscar Wilde, Edith Piaf, Honoré de Balzac, Marcel Proust e Jim Morrison, vocalista da banda The Doors. Este cemitério entraria em qualquer lista feita polo Morto.
 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Pujança e miséria do ativo MRVE3












Em 28 de Dezembro de 2012
o ativo bateu o martelo em R$ 11,98








                                                                         Segundo trimestre de 2012. A Engenharia fechou o segundo trimestre com lucro líquido de 145 milhões de reais, queda de 23,4% sobre o ganho obtido um ano antes. A geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) somou 212 milhões de reais entre abril e junho, 17 por cento menor na relação anual, com a margem caindo de 25,9 para 19,4 por cento.


                                                                           Lista suja de trabalho escravo. A empresa foi incluída na última atualização do ano de 2012 na chamada lista suja do trabalho escravo. A primeira vez em que a empresa constou na lista foi em agosto deste ano, quando uma fiscalização do Ministério do Trabalho teria constatado condições irregulares em algumas obras. Um dos maiores efeitos da medida foi a suspensão, pela Caixa Econômica Federal, de novos créditos à incorporadora.
Em meados de setembro, a incorporadora obteve, no Superior Tribunal de Justiça, uma liminar para tirá-la da lista. A tese alegada foi que a inclusão ocorreu sem nenhum ato administrativo prévio, o que seria ilegal.
 

                                                                           Resumo de 2012. Bateu o martelo em 28 de Dezembro de 2012 valendo a quantia de R$ 11,98 com alta em 2012 de 16,42%. Em 29/12/2011 fechou o ano valendo R$ 10,70, com queda anual de -30,57%. Segundo o balanço divulgado a MRV fechou 2012 com um lucro líquido 30,6% menor do que aquele reportado em 2011, ficando em R$ 528 milhões. Olhando o 4º trimestre do ano, também houve queda em relação ao mesmo período de 2011, indo de R$ 209 milhões para R$ 115 milhões ou piora de 44,9%. O lado bom foi a receita líquida acumulada em 2012 ter crescido 6,2% em relação a 2011, para R$ 4,266 bilhões, só que o desempenho da receita no último trimestre ficou 12,5% abaixo do que foi visto no mesmo período do ano anterior, em R$ 1,023 bilhão. O Ebitda (sigla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) trimestral despencou 40,5% na mesma base comparativa, para R$ 171 milhões. Já estão projetando um primeiro trimestre de 2013 não muito bom. O mercado contava com dados melhores em 2012. Outro fato interessante é que o valor do ativo nos últimos dois ano ficou andando de lado.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Pujança e miséria do ativo DASA3 ou DASA



Fechou o ano de 2011 valendo R$ 15,50
 e o ano de 2012 em R$ 13,19. O lucro da
empresa caiu 41,7 % quando comparado
com 2011.


                                                         


                                                                          A empresa. A Diagnósticos da América ou Dasa tem como principais acionistas Edson de Godoy e Dulce Pugliese os quais são também os fundadores da empresa. Fornece serviços de análises clínicas através de laboratórios contratados e serviços de suporte diagnóstico por meio de clínicas especializadas na área de anatomia citológica e patológica, testes por imagens e medicina nuclear. A Dasa atua em testes de alimentos, importações de equipamentos médicos e hospitalares, equipamentos de diagnósticos e outros materiais desta área. Edita, publica e distribui jornais, revistas, livros  periódicos e revistas, assim como administração de franquias para propaganda e publicação, recomendando fornecedores de equipamentos e material de pesquisa, dentre outros. Opera um negócio lab-a-lab através da marca Alvaro, e oferece serviços no segmento de saúde pública através da marca CientificaLab. A Dasa oferece seus serviços a consumidores finais, empresas de seguro, entidades de assistência médica e hospitalar e outras entidades para o financiamento da saúde.


                                                          Entrou no índice. Em 2012 passou a fazer parte do Ibovespa a partir do primeiro pregão de 2012. Sem nenhuma ação excluída do índice, o Ibovespa terá 70 papéis de 65 empresas, sendo que a vigência desta carteira será de janeiro a abril de 2012.

                                                        A Black Rock no pedaço. A Black Rock, maior gestora de fundos do mundo, informou que adquiriu mais papéis da empresa de medicina diagnóstica Dasa, alcançando uma participação equivalente a 5,11% do total de ações ordinárias da companhia. O fundo de recursos esclareceu que aumentou sua fatia na Dasa apenas como forma de investimento. A Black Rock é a maior gestora de fundos do mundo e por isto devemos ficar atentos aos seus movimentos mas eles também erram e muito, já vi isso várias vezes.


                                                             Um topo. Nunca se esqueçam que na data de 18 de Maio de 2011 o ativo bateu o martelo nos pujantes R$ 23,69 reais. Foi um topo nos últimos tempos e rondou este valor até iniciar uma linha de tendência de baixa.
 
                                                           Terceiro trimestre de 2012 e dívida preocupante. Neste trimestre o lucro líquido caiu -52,6% ou foi igual a quantia de R$ 26,8 mi8lhões. Neste trimestre a dívida bateu em 943,9 ante 824,1 um ano antes. Somos muito preocupados com lucros e com dívidas. Se a empresa lucra paga as suas dívidas, se lucra pouco terá dificuldades. Será que a empresa aumentará o capital emitindo novas ações e por isso o ativo depois de atingir o valor de começou a cair? É a pergunta que fica a qual deixa o investidor receoso por enquanto, esperando um preço mais baixo lá na frente.
 
                                                          Quarto trimestre de 2012 e resumo deste ano em apertadas linhas. O que interessa em uma empresa é lucro ou a possibilidade de obtê-lo nem que seja a longo prazo e neste quesito o ativo não está bem. A empresa tomou prejuízo líquido de R$ 1,6 milhão no quarto trimestre, no mesmo período  um ano antes ocorreu o contrário ou lucro de  de R$ 18. Outros dois dados preocupante é a receita que ficou estável em 604,3 milhões de reais e o custo dos serviços prestados que teve alta anual de 14,5 por cento no quarto trimestre, a 414,3 milhões de reais. A empresa alegou o número excessivo de feriados e sim no aumento dos custos reportados pela própria empresa. A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização  teve redução de 30 por cento, para 73,5 milhões de reais. A empresa teve impacto positivo no caixa de R$ 20,4 milhões pela venda de imóveis, ou seja, se não fosse este fato não recorrente o balanço seria pior. O quarto trimestre encerrou com 523 unidades de atendimento, uma a mais que o registrado nos três meses encerrados em dezembro de 2011, das quais 71 são unidades hospitalares ante 78 um ano antes. A Dasa estima que terá que desembolsar em amortizações 286,6 milhões de reais em 2013 e 277,3 milhões em 2014. O valor das amortizações ou pagamentos poderá alcançar 1,513 bilhão de reais até o ano de 2019. Outro dado contábil importante foi  um lucro líquido de R$ 84,7 milhões em 2012, o que representa queda de 41,7% em relação ao verificado no ano de 2011 de R$ 145,3 milhões. O ativo DASA3 fechou na data 28/12/2012, último dia de negociação, valendo R$ 13,19 com queda anual de -14,70%. No ano de 2011, em seu último dia de negociação ou em 29 de Dezembro  bateu o martelo em R$ 15,50 com queda anual de -30,69 %. O resultado foi razoável, não teve prejuízo e ainda lucrou, se comparado com a crise que assola o mundo e com outras empresas que sdó dão prejuízos. O medo de emissão de ações continua. No dia 5 de março de 2013 o ativo caiu expressivos -5,46, batendo o martelo em R$12,30, dia em que os resultados foram divulgados, um resultado ruim sempre reflete no preço e vice versa e abre oportunidades em duas pontas, na compradora, apostar em um possível fundo e na vendedora, desfazer em um possível topo. E segue o barco...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 1 de março de 2013

Teoria da mentira como verdade



Maquiavel, o pensador do
poder, 1469-1527




              ...Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada...  
 (Otto Von Bismarck, 1815-1898, primeiro chanceler alemão)

                                

                                                                          Certa noite, à desoras, cá neste sertão perdido, nesta cidade miserável, no nosso buraco que mais parece uma panela de pressão, onde o suicida Judas já chegou sem as meias rasgadas, casualmente, estava olhando o nosso pai-dos-burros como sempre faço de quando em quando, vício cultivado desde a adolescência pobre em que o único livro da casa era um revelho dicionário com a capa em frangalhos, e de repente, fui ter com o dedo no vernáculo mentira. Na pesquisa, logo fiquei impressionado com a fartura de sinônimos, verbos, expressões e até sentenças a respeito do assunto. Por sinal, a palavra mentira vem do latim mentoir que significa mentir, fingir ou faltar com a palavra. Desta palavra temos um adjetivo muito bonito para mentiroso ou mendaz e o substantivo mendacidade como peta. Menda em latim significa defeito, falha ou descuido e por isso temos aos nossos cuidados os verbos remendar, emendar e outros tantos. A origem de tudo está no Indo-Europeu em que mend tem o sentido de defeito físico.

   
                                                                Nesta noite solitária, em um calor de arrebentar mamona, no mais completo silêncio, velado pelos insistentes ângulos retos das paredes deste casarão perdido na história, misteriosamente, passei a sentir arrepios e calafrios, as minhas pernas pareciam encantadas, sem vida, definitivamente paraplégicas.

                                                                Confesso que não sou um homem medroso, impressionado com coisas do além, mas ultimamente ouço estranhos barulhos nas entranhas do sobrado onde moro, imagino que sejam ratos. Acho que na velhice os meus nervos não andam beleza pura e, por isso, para apaziguá-los, todas às vezes que vou para a cama tenho que olhar debaixo dela à procura de algo que não sei o quê. Tentei domar este impulso bobo, mas depois pensei que isto não causava mal à ninguém e nem a mim mesmo e por isso passei a cultivar o hábito diariamente. O meu ganho com o costume sempre foi ter um sono mais tranquilo.


                                                                Preso à cadeira, sem viva alma que me pudesse socorrer, resolvi não entregar o jogo, as pernas, e após inúmeras tentativas consegui retomar o controle delas precariamente. Alguns instantes depois, já melhor recuperado das pernas dormentes, deixei o nosso pai de lado e arreganhado sobre à mesa e tomei a firme decisão de perambular pelos cômodos, tudo para esticá-las, fazer o sangue circular com alegria. E caminhei abrindo outras janelas, até que na última tomei golfadas de ar e contemplei serenamente o rosto do céu. Reforçando o intento,  subi e desci a escada algumas vezes agitando o líquido sanguíneo. Plenamente restabelecido decidi  não mais largar o livro e aprofundar o assunto delicado que tinha tocado o meu espírito.


                                                                  Isto posto, fui bater em aldrabice como mentira, palavra ainda muito apreciada em Portugal,  e que nos fez lembrar as argolas colocadas nos portões dos antigos casarões e castelos conhecidas como aldrabas, infelizmente as campanhias elétricas venceram, de qualquer maneira uma aldraba é muito chique em um portão; com a letra b, encontrei  bazófia, balão,  balela; caraminhola; fui ter com embromação, embuste, de embusteiro, que veio de imposteiro, exagero e eudrômia; falsificação, fraude,  fábula e ficção; ilusão, impostura, inverdade, este último vernáculo é um substantivo suave para uma mentira, inverdade vem de verdade e verdade é verus em latim que amancebada com o prefixo in também latino que sempre esta à nossa disposição negando os significados das coisas, formam a palavra em questão; lenda,  logro; mentira, já tratada aqui a qual pode ser cabeluda, mentira desta espécie é uma mentira exagerada, detectável até pelas pessoas mais simples, mendacidade, mistificação,  moca; novela; omissão, esta palavra é um equivalente muito de grande serventia aos mentirosos, quando eles são pegos em flagrante mentiroso, sempre tentarão dizer que omitiram e que não mentiram, que tudo não passou de um mal entendido, tudo na maior cara de pau; parolagem, do italiano parola que significa palavra, patranha, sua origem estaria no Espanhol pastraña, que passou a patraña, que significa história fabulosa, situação impossível, esta palavra teria vindo de pastoranea, por sua vez vinda de pastoro sentido inicial seria conversa de gente rústica e crédula, patarata, teria vindo também do Espanhol patarata, excesso ao demonstrar sentimentos ou fazer cortesias, atitude desprezível, beirando pelo ridículo, há quem diga que vem de pato, pelo ruído que faz ao andar por terra,  peta, do Latim pitta, palavra usada para designar bilhete de loteria e esta vem do Grego pettos, pedra de jogo, quando se trata de jogo, a possibilidade de alguém estar enganando para levar vantagem é grande, de onde o sentido , patacoada, talvez venha de pataca, moeda que era usada em Portugal e suas colônias, muito útil para ridicularizar quem diz ter muito dinheiro, pomada; tergiversação, origina-se do Latim tergiversare, palavra que une tergo ou costas mais versare, ou o verbo virar, então temos virar às costas ou desconversar ou virar as costas para a verdade.

                                                                     Uma letra conduzia a outra que combinava com outras formando sílabas, que transmudavam em palavras misteriosas, outras desconhecidas, em legiões de verbos e substantivos que traziam conhecimentos impensáveis.  De um livro passava para o outro e vice versa, uma folha conduzia à outra, procurei a internet e naveguei por mares desconhecidos, tudo em busca da mentira. Vi broca, engano, fuxico, gamela, sedução, lampana, logro vindo de  lucrum, maranhão, mentira-carioca, mariquinha, potoca, prego e engodo, esta aparenta vir do Latim em, mais gaudium, que é o mesmo que alegria. O sentido talvez venha do fato do enganado, do logrado, estar alegre com a pomada em um primeiro momento, só lá na frente toma tento do embuste e fica triste,  ou até ser a atitude de alegria do enganador em tosquiar a vítima.


                                                                      Vi que o assunto era complexo e vislumbrei que a nossa sociedade estava atulhada de mentiras por todos os lados como se fosse um cômodo  cheio de coisas empoeiradas e imprestáveis. Pensei, as mentiras são a base da sociedade e seria impossível a convivência de uns com os outros sem elas, uns devem enganar os outros, apaziguar os mais fracos com boas idéias e os poderoso uma verdade aceitável dominarão os outros. Tudo era uma questão também de credibilidade, em colocar a mentira em cima da mesa para que esta com a melhor aparência possível fosse engolida. Primeiramente, o homem come com os olhos por isso a beleza exterior da comida, e o mesmo recurso, com as devidas mudanças, deve ser empregado para esta instituição ou seja a mentira deve ser embelezada, ter boa aparência e ser muito educada. A violência física é coisa do passado no bando, já foi verdade mas está desusada. A violência contemporânea é sútil, delicada, quase imperceptível pois a ferramenta usada é a patranha.

                                                                     Esta constatação me deixou muito triste e desanimado com o mundo e o pior é que já pensava em mim mesmo como uma grande mentira irrecuperável, abandonada no tempo e no espaço, sem nenhuma mentira sólida para defender, compartilhar e acalmar a minha angústia de homem abandonado pela família e pela verdade. Já começava a pensar que nada neste mundo valia à pena, que tudo não passava de uma luta inglória contra as patranhas. Não me sentia bem, uma febre tomou conta do meu corpo, e cheguei a imaginar que a minha vida tinha  que ser resolvida pela solução final. Mas respirei fundo, amealhei forças e continuei.        


                                                                          A vida sem as mentiras seria um verdadeiro inferno. A Desandar as coisas aferi que a vida sem as mentiras seria um verdadeiro inferno. Achei isto impressionável, a vida transformada em inferno sem as mentiras nossa de cada dia, isto colocava a condição humana como uma dependente química das inverdades e aceitar isto sem nenhuma luta ou revolta, substantivamente indigno para toda a raça humana. Já olhava todo o conhecimento que obtinha com desespero, as minhas pernas tremiam e os meus ombros vergaram para baixo em sinal de desânimo.
                                                                      
                                                                            Prometo não abaixar mais os ombros, enfrentarei tudo com ombridade, devo aceitar que o mal tem força, o bem pouca, e a mentira como ferramenta do mal multiplica-se como se fosse uma rede negra que por osmose  penetra em tudo que vive e existe e contamina até as Ciências Históricas. Exemplificativamente, fiquei sabendo com a boca aberta que o doutor Ignace Guillotin não criou a guilhotina da Revolução Francesa, como muitos imaginam,  apenas sugeriu o seu uso em razão da demanda crescente de cabeças, foram os romanos os criadores, e alguns historiadores acham que foi inventada pelo cônsul Titus Manlius, que paradoxalmente, acabou sendo executado por ela. Ficam falando por aí que Osama Bin Laden foi o primeiro a atacar os Estados Unidos, a glória coube a Pancho Villa que em 1916 cruzou o Rio Grande e atacou a cidade de Columbis, Texas, onde matou sete pessoas, a invasão durou menos de dez horas. Nem o Brasil descapava, Pedro Américo, o nosso grande pintor, me deixou segurando o queixo, em seu quadro Grito do Ipiranga de 1888, descreveu a cena da independência com D. Pedro I a montar um vistoso cavalo, na verdade ele cavalgava provavelmente uma humilde e resistente mula, animal que na época era usado em grandes viagens como a que fazia no momento, se não bastasse isso, o seu quadro é um plágio  do quadro de Ernest Messionier ou Friedland. E, assim,  as coisas históricas iam caminhando, ao gosto dos vencedores.


                                                                          Das mentiras entre as mulheres. Quando meditamos sobre o tema, lembramos das mulheres. Aprecio e muito as mulheres mentindo, algo imperdível gosto do toque suave dado a mentira, tudo em cores roseadas. São políticas e especialistas, umas danadinhas no assunto. Adoro quando vejo uma comadre dizer para a outra:

                                                                        - Oh, queridinha, como você está bonita, cada dia mais nova!

                                                                          - Obrigada, você sempre é um anjo, bondade sua!


                                                                          Em verdade este título é um preconceito escancarado contra as mulheres, machista, não levem a sério, formalmente deve ser ignorado pelo leitor amigo, pois os homens mentem muito mais que as mulheres e isto é vero. A prova científica e acabada do que afirmo é que eles ocupam o poder em bem maior número e, por conseguinte, eles acabam mentindo muito mais. Só que um homem tem uma maneira diferente de mentir, eles fazem cara de bravo, enrugam a testa, levantam os ombros e alguns fecham os punhos, tudo com um toque testosterônico. Usam até a sua pujança física para se fazerem acreditar. É uma questão de estilo na guerra dos sexos. Então, não devemos ter dúvida de que mentira é poder.
                                               

                                                                      Por falar do poder, não podemos esquecer dos políticos, eles são os nossos mestres e sempre sobra para eles em qualquer discussão ou investigação, isso é inevitável e nos nossos estudo isso seria inevitável. O que seriam dos políticos sem a mentira? Sem a gamela eles imediatamente entrariam em extinção, como acontece com a maioria dos animais e os que sobrassem não teria a mesma configuração que hoje possuem. Os políticos estão sempre representando um papel, uns são os pais dos pobres, outros combatentes de vilões, outros salvadores da pátria e assim por diante. Todos tem algo em comum, mentem à bessa. Sem embargo disso, os políticos merecem uma defesa em prol de suas petas, pra falar a verdade uma circunstância atenuante, pergunto, qual o político que seria eleito falando toda a verdade sobre a situação das instituições, quase todas quebradas mundo afora, e não prometesse coisas impossíveis? Destarte, o povo quer a mentira e isso não é nenhuma mentira e, podemos dizer, que todo povo tem a devida mentira que merece, sem mais e nem menos. Assim, os políticos não são os únicos culpados. Por outro lado, é normal que os políticos gostem dos artistas e estão sempre se aproximando deles, acho que vêem um semelhante, como os artistas representam um papel, são famosos e pretendem dominar a mente alheia, só que os últimos com as devidas boas intenções. A minha opinião sincera sobre os políticos é que eles são uns demônios, falo isso de boa, que ninguém me leve a mal mas nunca se esqueçam, há coisa pior no mundo que os políticos, os ditadores, isto é o prêmio de consolação.



                                                                            Dr. House. No estudo fui ter com o  Dr. House, um médico muito inteligente de um seriado da TV o qual tem um apreço muito especial pela mentira. O personagem tem uma cara de poucos amigos, com jeito de alguém que a qualquer momento será internado em um hospício. Ele mesmo já disse sobre si mesmo: -Você vai acreditar em mim? Eu minto sobre tudo! Gostei do seriado, os jovens adoram, acho que o fenômeno é em razão deles terem maior facilidade em lidar com as patranhas. O personagem  em suas aventuras vive à cata das mentiras alheias, mormente de seus pacientes, por isso diz coisas impagáveis como: as verdades começam nas mentiras ou as pessoas mentem por milhares de razões, sempre existe uma razão ou, ainda, é uma verdade básica da condição humana que todo mundo mente. A única variável é sobre o quê.   Estava desesperado com tudo isso, no entanto, o melhor não era desistir, aprofundar o assunto e tentar descobrir algumas verdades. O Dr. House tem razão quando afirma que as mentiras são como as crianças, dão trabalho, mas valem a pena porque o nosso futuro depende delas.  Esta foi cruel, ora essa, mentira e crianças e o nosso futuro dependendo delas, isso acabava sendo um paradoxo intragável, mas vá lá.

                                                                      O número da mentira ou 171. Percebi que o número 171 se agarrou bem a mentira no nosso país, o nosso legislador do Código Penal não poderia ter escolhido número melhor, é sonoro e fácil de gravar. O art. 171 do Código Penal brasileiro trata de uma mentira ilícita ou dos estelionatos, ou seja, quando alguém se utiliza da mentira com arte ou ardil e obtém uma vantagem ilícita estamos diante de um ato ilegal, passível de pena. A lei sem embargo disso, não fica se ocupando de mentirinhas nos negócios, acha normal dourar a pílula ou  um objeto quando estamos vendendo-o,  nesses casos,  é perfeitamente normal, legal. Um amigo meu dotado de um feroz  espírito zombeteiro, vive jogando uma bolinha de enxofre no assunto, chama um casal conhecido de Estela e Nonato, em razão dos dois desonestos praticarem estelionatos juntos. Ri da comparação à farta mas achei o casal periculoso e, reconheci que realmente o casal unido poderia enriquecer juntos.


                                                                         Com a noite varando a madrugada, com os olhos inchados e caindo de sono, resolvi encerrar o assunto e continuá-lo na outra noite. Já estava farto de  mariquinhas e o meu cansaço mental prometia um sono longo. Pela segunda vez não dominava as pernas.  Na ausência delas, me arrastaria até o quarto em busca do repouso, era sexta-feira. E me arrastei como nunca e depois de muito esforço cheguei ao leito e uma vez ajeitado o corpo, logo adormeci como uma pedra.


                                                                          No entanto, como alegria de pobre dura pouco, mal cai no sono, vieram os pesadelos para estragar o resto da noite. É difícil explicar o pesadelo mas ele envolvia uma mentira a respeito dos meus investimentos. Sonhei que tinha aplicado todo o meu dinheiro, até a última moedinha em um ativo errado negociável na bolsa de valores conhecido pelo código MILK11. No investimento maléfico tinha não só colocado o meu dinheiro, como o do cheque especial, dos furiosos agiotas, do pai, da mãe, dos irmãos, de alguns vizinhos que depositavam inteira confiança em mim, do cunhado e até o da sogra. Uma tragédia econômica. Fi-lo tudo na crença cega da multiplicação alegre e fácil do dinheiro.


                                                                          Pra quem não entende nada de ações digo que cada ação tem um código na bolsa de valores, se você quer investir em uma blue chip, ou ação de primeira linha, como a Petrobras você poderá comprar os ativos PETR3 ou PETR4, se na Vale, a nossa grande mineradora, você poderia comprar Vale3 ou Vale5 e assim, por diante, toda a empresa tem um código. Até aí tudo bem, tinha feito um investimento errado com alavancagem, ou seja, com dinheiro alheio. Só que a nossa bolsa está cheia de armadilhas e é necessário aprendermos uma expressão famosa neste mundo de negócios e mentiras ou Ficar com o mico. Ficar com o mico não tem nenhuma conotação sexual. Significa investir o nosso rico dinheirinho em algo que não conseguiremos vender pelo preço que compramos e quando realizamos o prejuízo ou vendemos o ativo, isto se conseguirmos, dizemos que ficamos com o mico. É o pesadelo dos investidores.


                                                                         Até aqui, tudo bem ainda, acontece que o ativo MILK11 foi um dos micos que mais deu prejuízos aos investidores, é mico de primeira linha. Há inúmeros outros casos de micos famosos. Fiquemos com este. Esta ação foi lançada na bolsa valendo uns R$ 12,00 e depois foi desvalorizando até bater nos incríveis R$ 0,29 em abril de 2011, isto feito os controladores da empresa com sede em um paraíso fiscal fizeram um tal de agrupamento de ações por dez e elas passaram a valer R$ 2,90. No pesadelo tinha ficado encantado com o agrupamento, na crença de que pior que estava não ficava, à la Tiririca, ou um pensamento totalmente errado uma vez que o que é ruim sempre consegue ficar pior. Na vida real o ativo depois deste agrupamento continuou caindo e hoje gira em torno de R$ 0,40 e um investidor desde o início  estaria no prejuízo de quase cem por cento, alguém que tivesse investido cem mil reais, hoje, estaria com menos de mil, uma tragédia com suspeita de crimes por trás de tudo. Na verdade podemos chamar esta ação como a raínha dos micos e muitos entraram nesta latada na crença que lidar com leite é fácil e que a marca Parmalat da empresa faria milagres ou talvez retinham no inconsciente aqueles bichinhos fofos representados por bebês na televisão divulgando esta marca. O problema maior do pesadelo nem foi o investimento errado e sim a presença de dezenas de micos de carne e osso em meu quarto.  Alguns dormiam profundamente em minha cama, outros ficavam olhando-me atentamente. Até aí tudo bem ainda, mas em dado momento todos os eles se uniram contra mim, em atitudes furiosas, mostrando os seus dentes brancos afiadíssimos, pareciam extremamente magros e famintos, passei a desconfiar das segundas intenções deles e  me sentir como um peru no natal pronto para ser devorado pela fome humana. Depois de me observarem por alguns longos minutos, começaram a me atacar sem piedade, como pequenos demônios que arrancavam  pedaços de carnes do meu corpo. Foi um sofrimento intenso, nada é mais cruel que mordidas arrancado pedaços de carnes do nosso corpo em um sonho malino. Depois de várias mordidas, nem peru mais era, apenas uma carniça depositada no leito sendo  devorada pelas feras,  tentava gritar pedindo socorro e da minha boca não saía nenhum som. Tive uma vontade louca de dizer que ninguém merecia aquilo e que uma morte digna era um direito de qualquer cidadão vivo e que queria os meus direitos. Para que o meu sofrimento fosse maior, os micos, todos eles,  com a carne sangrando já em suas mãos, soltavam um guincho estridente no meu ouvido, tudo com a intenção perversa de perfurar os meus tímpanos.


                                                               Quando acordei estava completamente molhado, tinha suado em bicas, e senti-me aliviado ao consultar as minhas pernas que funcionavam, sentir as minhas carnes no lugar certo e ouvir o ruido da vida que vinha das ruas e atravessava as paredes grossas da construção. Como a minha alegria era indizível por ter acordado. Logo,  veio à minha cabeça a expressão no pain, no gain, sentia na carne a verdade do ditado. E fiquei ainda na cama por algum tempo repetindo no pain, no gain, no pain, no gain...

                                                                Ao depois, pulei da cama e resolvi aproveitar como nunca o ganho, o dia, por primeiro tomaria um banho frio, em seguida, festejaria os meus tímpanos com música, com três das minhas favoritas ou Self Control de Laura Branigan, Kung Fu Fighting de Karl Douglas e Como Eu Chorei de Lourenço e Lourival. Em dado momento fiquei pensando, como eu gostava de Laura, sentia pena dela por morrer tão jovem, aos 37 anos, vítima de um aneurisma cerebral. Isto é que era tragédia, se elevar tanto e depois a queda, a morte, sem nenhuma explicação razoável, eu pelo menos respirava a vida. Na sequência fiz uma caminhada. À tarde retornaria a ler A Visita Cruel do Tempo, mas na verdade, estava louco para reiniciar os meus estudos. Estava viciado no assunto.

                                                               
                                                                 Na segunda noite retornei aos estudos, me sentia bem após  os pesadelos, as músicas e a caminhada. Mal comecei o assunto e fui dar com o tinhoso, é que descobri que o demônio, Príncipe das Trevas, Senhor de todo mal que ronda o mundo, também é o glorioso Pai das Mentiras e este tal qual a mentira tem uma fartura de sinônimos, havia encontrado algo comum e estreito entre as duas instituições. Confesso que senti medo, vontade de olhar debaixo da cama, outros calafrios e arrepios. Digo que a solidão é cruel nestas horas. E o dicionário trazia como equivalentes do não-sei-que-diga: Anhanguera, beiçudo, bode-preto, capa-verde, coxo,   coisa, coisa-ruim, coisa-má, cão, dialho, dianho, Diogo, excomungado, fute, galhardo, grão-tinhoso, maligno, malino, manfarrico, pedro-botelho, pero-botelho, porco, porco-sujo, tinhoso e uma infinidade de outros, estes nomes são na verdade apelidos. Destes o melhor é Coisa, gosto desta palavra uma vez que a sua polissemia é de babar e quando não encontramos nenhum vernáculo pra qualquer coisa temos a coisa pra nos socorrer. Por falar nisso, alguém chamando outrem de coisinha é clássico. Como gostava de dicionários, praticamente o meu primeiro livro, fazia mal em abandoná-los ultimamente.


                                                                   Que o demônio seja cego, surdo e mudo, mas não acredito neles, isso de diabo não passa de superstição cultivada pelo povo. Meditei,  atualmente existe um preconceito muito grande em relação aos demônios, encontrar um demonologista é o mesmo que procurar uma agulha em um paiol, o jeito era pesquisar e me transformar em um. No entanto, na antiguidade o homem se dava melhor com Deus e com o Demônio, hoje tudo acabado, ninguém fala mais dele e por isso nos todos temos pouco conhecimento sobre o assunto. Para piorar as coisas nem a igreja fica mais assustando a população com legiões de demônios, uma pena, talvez por isso perdem grande parte do rebanho que quer o demo a plenos vapores. A humanidade, do politicamente correto, está enganada, uma vez que  toda a moeda tem cara e coroa, a boa tese suplica ardentemente pela antítese, o que seria de Deus sem Satanás, palavra grega que significa apenas adversário, provavelmente  o sistema entraria em ruínas e o bem perderia o seu barulho. As religiões ficariam às mosca. Destarte, os demônios como as mentiras são úteis e necessários.


                                                                  Assim, vi uma oportunidade nesta noite para aprofundar o conhecimento e peguei firme nas pesquisas. Pra falar a verdade sempre tive uma simpatia por três demônios que ouvia falar por alto, ou seja, Lúcifer, Mefisto ou Mefistófeles e Belzebu. É uma simpatia boba, apenas sonora por ter gostado dos nomes e, sempre guardei este gosto para mim mesmo. Volto a afirmar, não entendo nada de demônios e não acredito neles. Agora lembrei-me de um outro que tenho simpatias ou de Leviathan, quarto príncipe do inferno, serpente maligna dos mares, deus das inundações. As simpatias por este último são apenas didáticas em razão de Thomas Hobbes ter comparado o Estado a um poderoso demônio e o chamou de Leviathan. Hoje ninguém duvida que o Estado é também um demônio, no nosso país ele é tinhoso, basta dar uma olhada rápida na corrupção que assola tudo e todos  e na carga tributária desumana, digo estas coisas políticas, aliás sou avesso a política como ela existe, tão-somente para demonstrar a essência demoníaca do Estado, que ninguém desconfie de nossa alma. Achei a comparação o máximo, beleza pura, infelizmente ninguém presta muita atenção nesta analogia e o Estado continua um deus, um suposto provedor de tudo. Um tal de Peter Binsfeld estudou o coisa e para cada pecado capital associou um demo ou gula para Belzebu, avareza para Mamon, luxúria para Asmodeus, ira atrelada a Azazel, inveja patrocinada por leviathan, Belpheger ficava com a preguiça e, no final, o orgulho para Lúcifer.


                                                                      Como estava com as mãos na massa estudaria os meus favoritos primeiramente e descobri que Lúcifer,  este belo exemplar do lado negro da coisa é o maioral dos demônios, Príncipe das Trevas, expulso do céu por Deus por ter se rebelado contra este, antes era considerado um anjo perfeito. Existe até o luciferianismo, uma ideologia que prega a sabedoria, a luz, o orgulho e a independência. Lux ou luci vem do latim e deu origem a palavra luz, e ferre da mesma língua morta tem o sentido de portador, portanto temos o portador da luz como significado deste nome, nada de anormal. Mefisto ou Mefistófeles tinha surgido na idade média e no mito de Fausto, classicamente escrito por Goethe e outros, sempre aparece como o seu opositor. Mefistófeles tem o sentido daquele que nega a luz ou poderia ser aquele que nega Fausto. O ensinamento do mito é que não podemos trocar coisas maiores por outras menores ou a alma por uma vida passageira e coisas semelhantes como a dignidade por dinheiro. Belzebu é uma junção do deus fenício do trovão e da fertilidade Baal ou Bael com Zebul, deus das moscas e pestilências. Os dois entraram em desentendimentos, serpente picando serpente, por fim Baal saiu vitorioso e um imenso buraco foi aberto no cosmo sugando os dois e depois exsurgiu o uno, a união poderosa de ambos e o nome Belzebu. Fiquei decepcionado com os meus favoritos em razão de ter encontrado tanta coisa boa sobre eles, queria coisas picantes e cheias de imaginação.
                                                                     

                                                                      Lilith um demônio feminino. Lilith, é considerada como a mãe de todos os demônios, bem como, a rainha dos súcubos.  É um demônio feminino rebelde muito interessante. Para quem não sabe, Lilith na verdade foi a primeira mulher criada por Deus juntamente com Adão, os dois foram criados em igualdade de condições e colocados no paraíso. Contudo Adão era um homem machista e queria mandar em sua companheira que retrucava: Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti?  Inconformada com o machismo fugiu para o deserto. Deus mandou três anjos em seu encalço, Sanvi, Sansavi e Samangelaf, com a missão de trazê-la de volta. Lilith resistiu e acabou se envolvendo com um outro demônio ou Samael. E Adão acabou perdendo a sua companheira. Para que um não mandasse no outro Deus resolveu criar a mulher desta vez usando uma costela de Adão ou seja Eva. Como prova disso alegam os estudiosos que no primeiro capítulo do Livro de Gênesis, versículo 27, está escrito que: Deus criou o homem à sua imagem e semelhança; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Não há nenhuma menção a nenhuma costela.  Porém, no segundo capítulo versículo 18 encontramos: O Senhor Deus disse: Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada. Isto da a entender que a mulher criada tinha fugido e, apenas no versículo 22 do segundo capítulo que Eva é criada, ou depois do gênesis e de alguns capítulos: E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. Sobre a nova mulher Adão disse: Esta é agora osso dos meus ossos... ou em inglês, The man said, This is now bone of my bones..., Gênesis 2:23. Depois as más línguas que no Jardim do Edén Adão foi tentado por Lilith em forma de serpente e eva por Samael e ambos cometeram adultério. Em algumas traduções esta afirmação aparece como esta sim...dando a entender que havia uma outra mulher antes de Eva. Nas traduções bíblica Lilith é substituída por demônio ou bruxa do deserto. Informações sobre este demônio podem ser encontradas no Alfabeto de Ben-Sira.Assim, temos um demônio ocultado e uma mentira estabelecida, o machismo. As artes plásticas vem restaurando a imagem da primeira mulher, o quadro Lilth de John Colier é belo, outra pintura belíssima sobre este espírito é Lady Lilith de Dante Gabriel Rossetti.


                                                                
                                                                 O número do demônio. Se a mentira neste país tem um número vistoso, o demônio também tem um, ou 666, para sermos exatos este número é o da besta mencionada na bíblia e forma uma trilogia. Não podemos esquecer que muitos consideram o número seis como o número da humanidade em razão de Deus ter criado o homem no sexto dia, o próximo número ou sete já seria o número do Senhor,  é uma alusão de que seis nunca poderá ser sete, que o homem não pode ser Deus e muito menos o coisa ruim.

                                                                  Igreja de Satã ou o demônio não é tão feio como pintam. Continuando a pesquisa, com a madrugada já indo alta, sem mais nenhum domínio sobre as minhas pernas, para a minha surpresa, descobri na internet que o demônio tem uma igreja, na verdade é Satã o agraciado ou Church of Satan. Foi fundada em 1966 por Anton Szardor La Ver, conhecido como o Papa Negro. Esta igreja pra falar a verdade não é muito satânica como imaginamos à primeira vista já que é considerada uma filosofia hedonista e humanista e pretende entre outras coisas combater o cristianismo. Para este pessoal não é justo algumas igrejas combater o corpo como se ele fosse imundo e asqueroso, para eles o corpo é biológico, e merce todo o carinho e inclusive merece praticar todos os sete pecados capitais, mormente, o  desejo sexual e colocar em torno do tabu criado, todo um complexo de culpá. O nome foi mais para chamar a atenção. Palavra Satã significa adversário, e pelo que eu sei é apenas um espírito adversário de Deus. Alguns gritariam indignado que nada neste mundo poderia ir contra Deus, grande bobagem, o que seria da tese sem antítese.Se o demônio não é aceito as religiões perderiam toda a graça Se o demônio não existisse toda a religião perderia toda a graça, parte de sua essência.

                                     
                                                                              Das conclusões. Confuso, no meio de tantas mentiras, cercado por inúmeros demônios cheguei a conclusão que o homem tinha como pai o demônio uma vez que só sabia mentir, já nascia quase que mentindo e morria nesta condição. Os irrecuperáveis chegavam para si mesmo, um deboche. Ora essa, se o homem mente à bessa e o demônio é o Pai das Mentiras esta entidade acaba sendo o verdadeiro pai dos homens. Isto explicava o oceano de mentiras.




                                                                          Já não acreditava mais em mim, sentia me horrível, para piorar tudo, as minhas pernas não mais agiam, passei a acreditar que elas estavam sendo administradas por forças malignas. A minha alma, habitante deste corpo decadente, passara a ver as coisas em preto e branco, tudo sem nenhum toque de sal, uma verdadeira tragédia entre os neurônios. Como homem poucas vezes tinha chorado na vida e então comecei a chorar como uma criancinha que tinha ficado perdida, longe da mãe e diante de tanto sofrimento tomei a firme resolução em cortar pela raiz todos os meus sofrimentos e cometer o ato tresloucado. Neste momento, nada mais era verdadeiro para o meu espírito do que as mentiras, demônios e suicídios, uma trilogia perfeita, um número perfeito ou 666, que se apossava de mim, sem nenhuma possibilidade de fuga.

                                                                                                                                              

                                                                         Do suicídio. Isto concluído, arrastaria como um réptil até a sacada e lá acabaria com tudo. Usei os meus braços poderosos mais uma vez e desci da cadeira, e lentamente atravessei os cômodos. Pelo chão fui deixando os rastros da minha dor, deixava lágrimas pelo caminho. No trajeto fui tomado por um dos piores sentimentos que é ter dó de si mesmo e chorar por isso. Era apenas um corpo, sem espírito, que flutuava no espaço, digno de choque elétrico e remédio tarja vermelha ou melhor dizendo tarja preta. Lá na sacada agarrei na fileira de balaustres e segurei o meu corpo doente ereto. A minha face ainda vertia lágrimas sinceras e condoídas, como ninguém me via aproveitei para soltar todas elas que não tinha chorado por toda a vida. Como todo condenado, tive um último desejo antes da solução final, ou contemplar o rosto do céu mais uma vez antes do pulo. Tudo conspirava para o meu sucesso nesta empreita, como que por milagre começava a sentir as pernas em plena forma. Sorri levemente entre lágrimas, isto facilitaria o impulso. Assustado, tremendo, sempre tive medo de alturas, tive uma súbita recaída e pensei em desistir mas as minhas contas não batiam depois de somar, subtrair, multiplicar e dividir o passado e, como alento, lembrei-me de Ernest Hemingway que tinha tomado decisão semelhante, no entanto,  em sua obra O Velho e O Mar, o idoso não desistia nunca, como um paradoxo de tudo que ocorrera com o escritor e como tudo que ocorria comigo. E assim, contemplei a face do céu pela última vez, do céu que nunca me receberia em razão de ato tão grave. Coloquei o tórax em cima da madeira que sustentava os balaustres, depois o braço esquerdo, o direito, e precipitei a cabeça para baixo. Almejava um fatal traumatismo crânio-encefálico que pusesse um ponto final em uma vida cinzenta. Não rezei e nem fiz o sinal da cruz, fechei os olhos e pulei para o abismo, para o meu buraco negro. Não me lembro de mais nada.




                                                                                 Da ressurreição. Quando acordei estava em um hospital internado pelo SUS. O que meus olhos contemplaram pela primeira vez foi a figura de um médico arrogante com olhar interrogativo, estava, cansado mas vivo, senti que as minhas pernas tinham recobrado a vida, isto me alegrou e virei o rosto para o lado tentando pensar em tudo que tinha ocorrido, no meu fracasso. O médico percebendo a minha fraqueza foi embora prometendo voltar depois. Depois de uma rápida inspeção percebi que estava novinho em folha, sem nenhum arranhão, apenas com os cotovelos levemente machucados. O melhor de tudo é que eu estava me sentindo muito bem com a ajuda de uns analgésicos, ou seja, depois de tanto sofrimento a sentença de no pain, no gain, estava se concretizando novamente. Mas desta vez mudaria completamente a minha vida, tomaria vergonha na cara, a queda tinha chegado os meus miolos no lugar certo. Apurei no leito hospitalar que não havia me dado bem com as minhas pesquisas e deixaria elas enterradas para sempre. Começaria uma nova vida do ponto zero, ou seja, com uma mentirinha, negaria o ato de pés a juntos, diria que nas minhas insônias tinha tido uma vertigem e caído da sacada. Contei o acontecido com riquezas de detalhes, com o rosto sério, franzi a testa e cerrei levemente os punhos. Todos acreditaram diante da gravidade testosterônica e não mais se falou do assunto. Há muito preconceito sobre estes atos impensados, não somos livres para fazer o que bem entendemos com o nosso corpo neste mundo místico e daí a boa utilidade das petas nestes casos.


                                                              E por falar em mentirinhas inofensivas, outra que narrei acima é que não sou tão velho como fiz o leitor acreditar, ainda tenho muita vida pela frente, apenas estou na meia idade, bem conservado e com planos. Como estou começando uma vida nova nada deve ficar escondido.


                                                                
                                                                Mudança de ares. Pensei em mudar de cidade, ir para a capital, contudo, esta cidade anda estranha, cada dia mais insondável para a minha alma confusa. Acabei mudando de idéia, afinal estava novinho em folha, com as pernas em pleno funcionamento e tinha sido salvo do vexame social por uma mentirinha não poderia querer mais nada da vida. Por estes dias, na capital,  andando lá pelo setor Marechal Rondon fui ter com um muro onde estava escrito:


                                                                   Templo é Dinheiro, em letras garrafais. Logo abaixo vinha uma frase em letras menores mais enigmática:

                                                                   Jesus te ama, mas eu não. O paradoxo do caso é que de frente do muro estava plantada uma igreja evangélica. Não podemos dizer que isto não é democrático, ou seja, o encontro da tese e da antítese.


                                                                  Júnior. Arranjaria companhia, ou seja, adotaria um cachorro, contudo, este adotado não seria um cão qualquer, pegaria um puro vira-lata, um bichinho carente, destes que perambulam pela cidade, de preferência um amarelo. Conclui que os cachorros carregavam um pouco de verdade. Isto arquitetado não foi difícil encontrar um belo espécime, de pronto batizei-o com o nome de Júnior. A sua humildade e as suas demonstrações de amizade sincera me cativaram. Lembro até hoje do dia em que nos encontramos, foi simpatia a primeira vista. Ao chamá-lo estalando os dedos ele se aproximou, todo assustadiço, com o rabinho no meio das pernas, isto me comoveu muito e notei que ele estava carente e precisando muito de ajuda. Era um cãozinho amarelado, novo e magro, do jeito que sonhei. Vacinei o animal, apliquei lumbrigueiro, comprei ração Royal e logo ele na sua juventude se transformou em um outro cachorro com coleira, duas vasilhinhas azuis, uma para ração e outra para água que tiro sempre do filtro. Até uma cama providenciei depois  de achar uma interessante com desenhos de ossinhos ao visitar o Pet Shop. Os seus olhinhos doces, parecendo duas pequenas jabuticabas me fascinam e depois de alguns passeios adquiriu o gosto e quando chego à tarde sempre está à minha procura e quando me encontra se dirige para a porta e olha para trás pedindo pra sair virando a cabeça. Só falta falar, tenho-o como filho. E com a amizade firme passamos a fazer longas caminhadas pelas ruas da cidade, as minhas pernas estão completamente saradas e a minha forma física melhorou e a endorfina amealhada rejuvenesceu os meus neurônios. Já estava explorando até o riso em proveito próprio, uma vez que quando indagado sobre o nome do cachorro e ao dizê-lo com a boca cheia: - Júnior, as pessoas soltavam um sorriso autêntico, isto me agrada, acredito que ajudo o mundo a se descontrair.


                                                                                 Só faço um reparo em nosso relacionamento, ultimamente, ando com crises de consciência, julgo que uso o cão sorrateiramente em meu próprio benefício, às vezes imagino que estou apenas sublimando as coisas e caducando. Sem embargo de tudo, para afastar qualquer culpa, aprendi até a dar banhos quentes no meu amigo e a catar um eventual carrapato. Sempre gostei de cachorros, o sentimento tinha arrefecido e agora voltou a plenos vapores, gosto deles por serem minimalistas, querem pouco e, acho que devo seguir o exemplo do meu companheiro e ser feliz. Nunca imaginei que um cão pudesse me ajudar a descer da cruz, são os fatos.


                                                                                    Em resumo, a nossa relação só tem se estreitado, certo dia chegou a dormir em minha cama, não que eu deixasse, mas aconteceu, achei melhor perdoá-lo. Cada dia que passa descubro uma característica de sua personalidade e assim os dias se vão. Passei a estudar o latido dos cães. Eles tem três grandes grupos de latidos, Usam até espectogramas em busca da identificação destes sons. A diferença entre os três tipos de latido está na altura, duração e frequência com que cada um é feito. Os latidos podem são mais complexos do que se imaginava. O latido que o cachorro usa contra estranhos é mais grave e segue, normalmente, em uma sequência curta, nesse latido é como se houvesse uma mordida ao final. Quando o cão quer brincar, o latido costuma ser mais espaçado e mais agudo. O terceiro, quando o cachorro quer chamar a atenção, se caracteriza por um latido nem tão grave, nem tão agudo, mas com mais espaço entre eles, do que os dois outros. Há outras variações de latidos destes principais. É possível fazer um cachorro choramingar, especialmente quando você chega em casa e é recebido alegremente por ele e este é o melhor momento para ensiná-lo a fazer isto. Consegui que o meu cão choramingasse e já distingo com clareza esta trilogia de latidos. Todo cachorro precisa de estímulos, são iguais aos bebês, uma vez estimulados eles acabam ganhando confiança e felizes eles ficam mais inteligentes. Os bebês aprendem por imitação e os cães idem. Enfim, há uma sintonia  entre o aprendizado e a felicidade.
                                                                                  

                                                                                   O meu nome não tem importância. Que o demônio seja cego, surdo e mudo e que o meu cão tenha uma longa vida.



                                                                                     The end.