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terça-feira, 13 de setembro de 2011

As Moiras, a nossa vida eternamente por um fio

Cloto, Láquesis e Átrópos, As Moiras, ou a nossa vida eternamente
por um fio, quadro de John Melhuish Strudwick, 1849-1937


                                                                 Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. Fernando Pessoa 1888-1935, uma tragada do blog na Tabacaria.

                                                                 A nossa vida por um fio. Uma verdade pungente, que dói, é a morte, a que, sem descanso, ronda e rondará a miséria de nossos corpos cheios de vermes. Diante de tanta verdade ou fragilidade é oportuno lembrarmos  que a nossa vida está sempre, moiramente, por um fio, ou, simplemente, tudo por um fio. Os gregos na sua saberdoria seminal, não deixaram por menos sobre a nossa vida por um fio, e, em suas narrativas criaram a Moira ou Aîsa, deusa encontradiça na obra homérica que representa o nosso destino ou fado. Mais tarde a Moira se transformou nas Moiras, a saber,  em três velhas respeitáveis ou, ainda, nas graves fiandeiras Cloto, Láquesis e Átropos. A palavra Moira origina-se do verbo grego meresthai o qual significa obter por sorte, partilha e, o substantivo Moira pode perfeitamente ser traduzido por destino, quinhão, sorte de cada um nessa vida ou a parte de cada um por sorteio. As Moiras eram filhas de Nix, a noite segundo Hesíodo, e em outra versão filhas de Zeus e  Têmis. Na antiguidade eram representadas por velhas Senhoras lúgubres, com enormes dentes e unhas grandes, mais modernamente podem aparecer em forma de lindas donzelas cuidando dos nossos destinos.
Nyx, a noite, filha de Caos,
 mãe das Moiras, quadro de
 William Adolphe Bouguereau
a nossa vida por um fio.
                   Símbolo impagável. A simbologia do mito das Moiras é a necessidade de lembrar ao orgulho do homem que a sua vida está sempre por um fio, que seu fio pode ser cortado a qualquer momento pela deusa Átropós. Daí a beleza do mito, a beleza da lembrança da humildade diante da morte que é sorteada a todo momento, um trabalho levado a cabo em linha de produção. Por isso, não brinque com a sorte, não abuse da sorte, não dance com as Moiras a dança macabra da morte, onde a sua vida está no embornal de apostas como coisa sem a menor importância. Homens prudentes são homens temerosos da morte. A maior bobagem do homem comum é não querer conversar sobre as Moiras ou sobre a morte, alías ter uma reprodução do quadro acima seria interessante. A filosofia das Moiras, então,  tem o seguinte princípio sagrado: a sua vida esta por um fio. Uma cópia do quadro de Nyx, a noite do véu negro, de William Adolphe Bouguereau seria um belo adorno caseiro também.

                     Morte esquecida como softwere do corpo. Todo dia é a mesma coisa, acordamos como imortais, esquecidos da morte, olvidamos que a nossa vida está sempre por um fio. A natureza é sábia, nos engana, faz nos agir como se não fóssemos morrer, dá um curto circuito na lembrança da humildade da morte e tocamos as nossas vidas com força, muitas vezes com ferro e fogo. A lembrança incessante da morte levaria ao caos  do hardwere, do corpo, e, da mente, e, a vida ficaria  insuportável. Por isso, precisamos esquecer urgentemente a morte. Fomos configurados para a vida assim, é o nosso softwere dentro do hardwere-corpo, temos que viver a todo vapor, lutar por tudo e contra todos. É a lei da vida que não quer e não pode ser humilde, é a luta incessante dos opostos em que o homem conta com o esquecimento constante. É difícil sentar na cadeira da humildade, o homem é de barro, mas de argila viva, que pula, chora e rola.

                                                                   As Moiras são parecidas na mitologia grega com as Queres, só que estas são mais sanguinárias, demoníacas e violentas. As Moiras foram transferidas para Roma na forma das Parcas ou Nona (Cloto), Décima (Láquesis) e Morta (Átropos)

                                                                   Quando estudamos as Moiras estamos dando uma passada na  Escatologia matéria que estuda o destino definitivo do homem, destarte, estudando as Moiras estamos na escatologia como destino inexorável do homem.

                                                                                o nosso software dentro do hardware-corpo
As Moiras cuidando
do nosso fio da vida
                As três fiandeiras graves, as três irmãs fatídicas são em detalhes:
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                Cloto. Origina-se do verbo Klothéin que significa  ou  melhor Cloto fia a nossa vida, o nosso destino, esta fiandeira pode fiar um longo fio dando-nos vida longa, bem como, um pequeno fio, ninguém sabe, ninguém pode prever o futuro; é a deusa dos nascimentos e partos. Cloth em inglês é roupa e tem origem nesta deusa.

                                                    
                                                                       Láquesis. Se a nossa vida é um tênue fio fiado por Cloto, alguém tem que sortear os fios que serão cortados e esta incumbência cabe a Láquesis, nome que vem do verbo grego Lankhanéin ou sortear. Assim há um sorteio macabro e horripilante de vidas para serem ceifadas, assim, a nossa vida está ligada a sorte, não podemos fazer nada quando a nossa sorte é ruim. As Moiras são netas do deus seminal Kaos. De Kaos veio tudo, segundo Hesíodo em sua obra Teogonia. Caríssimos, é necessário conhecermos a família das Moiras, já dissemos que elas são filhas de Nix, irmã de Érebo e depois sua esposa. Nix é também irmã de Eros, o amor primitivo, Tártaro, as trevas e Gaia, a Mãe Terra. Foi Nix quem deu a sua irmã Gaia o instrumento que ela usou para castrar o seu marido Urano. Os elementos Moiras, noite, morte, escuridão, trevas, amor e terra germinando estão ligados uns aos outros e a lógica é plausível.

                                                                       Henry Ford e a linha de produção da morte. As três irmãs simbolizam o verdadeiro e único trabalho em equipe do além, em linha de produção da morte. Essas Senhoras feiosas que parecem sorrir, uma fia a vida tão só, a outra faz o sorteio e a terceira, o corte do fio, trabalho de tamanha responsabilidade que cabe a Átropos. Estas senhoras estão lidando com assunto grave, não pode haver erros, a responsabilidade é grande, daí a especialização do trabalho. O trabalho tem de ser em equipe, especializado, em linha de produção, afinal, se trata da vida humana e a incumbência é grande, não pode haver engano ou distração, por conseguinte, são as graves fiandeiras.
                                      

                                                                        Átropos ou a que não volta atrás.   Átropos vem do verbo trepéin que quer dizer voltar e esta palavra acrescida do prefixo grego A, que significa não, temos na junção, a que não volta atrás. Em resumo, uma fia, a outra sorteia e a terceira corta o fio, sem nenhuma possibilidade de  volta, de mudança de idéia. Caríssimos, cocem a cabeça levemente, pensem, a que não volta atrás é simbólico, metafórico e metafísico, a saber, significa que a nossa vida é única, não há volta, não há devolução de vida. Vida não é objeto, não tem balcão, reclamação ou Procon do além. Colocamos o primeiro princípio das Moiras ou a sua vida está por um fio, o segundo princípio das graves Senhoras é que contra a morte não há remédio, ou princípio da irreversibilidade do que foi cortado.

                                                     
                                                                          Roda da Fortuna. A roda é o instrumento onde se tecem os fios e as Moiras trabalham, em equipe, com a Roda da Fortuna, o seu instrumento de trabalho, como se estivessem em uma linha de produção de Henry Ford. Na roda,  os nossos fios rodam pela roda, uma hora o nosso fio, está por cima e em outra hora o fio de nossa vida está por baixo. Isto explica as fases da vida, a boa e a má fase com a vida maios ou menos se intrometendo em cada uma delas ou o que está mais ou menos pode piorar ou melhorar.
Henry Ford 1863-1947, criador
 da moderna linha de produção,
posterior a das fiandeiras graves

                                                                           Reflexão final. Conhecendo As Moiras, meditamos sobre o fio de nossa vida que pode estar por um fio, pode ser longo ou estar na iminência de ser cortado por Átropos, assim, aqueles que levam tudo a ferro e fogo, como se fossem viver eternamente, podem estar em erro, em erro de humildade, em erro sobre a fragilidade do fio da vida. A metáfora do fio, veio a propósito, certamente, um fio arrebenta a qualquer momento como a fragilidade da vida pode se arrebentar na intuição do instante. O certo é levar e não levar a vida tão a sério, o métron, a boa medida, cabe a cada um, às deveras, cada um é cada um.



    
Representação da Roda da Fortuna na Idade Média


                                                             Zé Perrengue, um longo fio de vida a todos tecido por Cloto, a Moira fiante.













































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