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sábado, 27 de agosto de 2011

O Dilema do Crocodilo em letras góticas

O Dilema do Crocodilo em letras góticas



                                               Emergindo dos emaranhados do pantâno do inconsciente, o crocodilo, monstro verde-gosmento, que em um só golpe certeiro, quaerens quem devoret ou buscando a quem devorar, aprisiona em seus fiéis dentes a esperança da esperança, a criança atraída pelo cheiro fétido do charco, a qual sem forças, como uma posta de carne indefesa, se acomoda nas mandíbulas da morte, já sangrando em seus braços e pernas. A pobre mãe, a tudo assistindo, inconformada com o devoramento, com a cena dantesca, dá um grito de pavor que reboa,  que estoura pelos ares vibrando os tímpanos. No palco de Dante Alighieri, acompanhando toda a cena com sofreguidão, o demônio, com a cabeça enfeitada por um belo par de chifres cuspindo fogo, a antítese do bem, o qual em êxtase, a acreditar, no devoramento, jogava pelos ares pequenas bolinhas de enxofre, turvando todos os pensamentos conscientes e a enfeitar o ambiente com uma névoa de ovo podre.


                                                 Nessa cena lúgubre, infestada de fumaças vadias, o nosso monstro crocante, atingido pelos raios do grito, em seu cinismo sanguíneo, concorda em dar uma chance ao desespero maternal, a vítima, a todas elas, portadoras de uma chance romântica, de um direito gravado no livro do tempo. A decisão é, imediatamente, abençoada pelo demônio, o sempre cheio de intenções nefastas e nefandas, entre elas que o devoramento fosse em slow motion, tudo para maiores deleites sanguinários. Decisão que o Demônio toma, sem pensar, apenas com um aceno positivo de cabeça. E o Crocodilo, depois destas nuances, argui, a mãe aflita, na sua arrogância rastejante:

                                               - Advinha o que eu vou fazer com o seu filho?  -Se a resposta for correta, eu o soltarei! Tudo com irônicos e falsos ho!, ho!, ho!, imitando Papai Noel em filme de terror cult segurando um motosserra ensanguentado.


                                                Tal pergunta deixa a mãe petrificada, que titubeia em responder o enigma, o óbvio ululante. O terror aumenta em escala esponencial, o sangue santo escorre, as crianças são santas, a mãe fica mais estática ainda, às completas, tomada por Fobus, o deus grego do nosso medo herdado dos confins do paleolítico, no impasse demoníaco, o vento pára. Na fobia doentia da mãe em errar a síntese, a resposta da trese e da antítese, aparentemente simples, fica anestesiada, permanece ali travada na rede deste dilema, na rede do tempo de violência contra as crianças, cordeiros de deus, a esperança da esperança.

                                                
                                                 Neste exato momento o crocodilo crocante se vê em apuros racionais, tenta rever a sua proposta lançada, julga-a contraditória, entra em desespero, já conta com o terror da vítima em não responder a pergunta, a proposição ou enunciado.Vislumbra no horizonte as idéias duelarem, atirarem ao mesmo tempo, destruirem umas as outras, para o deleite do bem. Tenta raciocinar, tem dificuldades reptílicas, sente vontade de se encharcar no pantâno para um leve refresco; sente dor de barriga, afrouxa as mandibulas, a criança respira melhor, permanece quieta como instinto de defesa diante de forças superiores e demoníacas. Como um cão tolerado pela gerência, o diabo abre a boca, aperta o rabo. O monstro pensa melhor e se vê em uma emboscada das premissas que colocará em sua reputação a alcunha de tolo, se a mãe disser que ele o  crocodilo vai devorá-la, será obrigado a devolvê-la, a resposta está corretísssima, mas se ele crocodilo deixar a criança em paz, estará negando a sua intenção, que passará a ser falsa. E aí se criou o dilema do crocodilo e a cena ficou congelada na fração do tempo, na intuição do instante; caríssimos, todos os personagens da cena gótica passam bem, a fotografia é uma montagem, o  crocante crocodilo se acha devorado pelas idéias contraditórias, se julga um injustiçado, como nós todos sentimos injustiçados neste mundo. Não era correta na filosofia do crocodilismo dar ganho de causa à civilização, ao homem, o instinto é superior ao homem, só que o instinto estava perdendo a guerra e a racionalidade vencendo.  O que deveria ser superior ou o instinto devorador, estava sendo injustiçado por uma amaldiçoada racionalidade. Porem acreditava piamente que nada é mais firme, sólido, real, material, forte do que o intinto doado pela natureza, aliás qualquer crocodilo merecia carnes tenras de uma criancinha indefesa. A mãe petrificada, a criança em stand by e o demônio, às deveras, decepcionadíssimo, e, assim, permanecem, sem nenhuma resposta no e do tempo. Não há resposta, não há chifres, tudo não passa de um sofisma, de um jogo encantado de palavras. Sem embargo disso tudo, o que importa é que os dilemas continuam aterrorizando as nossas mentes, emergindo dos pantânos mefíticos, permanece a insondável escolha, o julgamento do homem julgando a si mesmo, destruindo a si mesmo, permanece o crocante crocodilo marinando em nossas cabeças.


                                                  Este dilema era do conhecimento dos estóicos, apreciado na idade média e hoje meio esquecido. Dilema, significa em grego, duas premissas. Premissa significa proposição da qual se infere outra proposição. Proposição significa enunciado ou declaração. Ou uma resposta para o  problema, só que a resposta torna falsa a proposição.


Frank R. Stockton, 1834-1902
                                                  Jogando uma bolinha de enxofre. Pensem no dilema do crocodilo, no dilema do homem, viver, morrer, ganhar, perder, ser, não ser, etc. Como sempre, gosto de colocar um gigante ao lado de outro, ao lado do nosso crocodilo coloco o tigre, o tigre de Stockton, há um conto sensacional, sobre os nossos dilemas, um dos melhores escrito nos Estados Unidos e no mundo, chamado de A dama, ou o tigre? de Frank R. Stockton, 1834-1902. No livro Contos Norte Americanos, Os Clássicos, coordenado por Vinicius de Moraes e apresentado por Orígenes Lessa, você o encontrará ao lado do melhor conto americano no nosso entendimento: Acender um fogo, de Jack Landon, 1876-1919, a trocarmos o crocodilo pelo cão. Para entender o cerne do conto de Frank R. Stockton, se se coloque sendo obrigado a abrir uma porta, uma escolha fatal entre duas, em uma tu podes deparar com um tigre faminto, na outra, com uma bela dama que te desposarás, tudo presenciado por uma espécie de demônio humano que se deleita com o delírio da escolha. Dilema é dúvida, a dúvida da escolha, a tragédia da escolha. Daí a grandiosidade do conto A dama, ou o tigre? é o dilema colocado no centro do homem. As respostas, ora, ora e ora, são, em sua maioria, insuficientes, algumas estão no maravilhoso livro A Escolha de Sofia. Por favor devorem este livro.
A Dama, ou o Tigre?

                                                      
      "A treze de janeiro, o capitão Nemo,
tendo chegado ao mar de Timor, avistara a ilha do mesmo nome.
A sua superfície é de mil e seiscentos e vinte e cinco léguas quadradas
sendo governada por rajás. Estes príncipes crêem-se filhos de crocodilo,
isto é, descendentes da mais alta origem a que possa aspirar um ser humano.
Por isso, os seus antepassados cobertos de escamas pululam nos rios da ilha
e são objetos de especial veneração. São protegidos, mimados, adulados,
alimentados, moças encantadoras são oferecidas, para que eles devorem e
ai dos estrangeiros que se atrevam a erguer a mão contra os sáurios sagrados.
O Náutilo, porém, não foi obrigado a enfrentar estes horripilantes animais."
(Excerto de Vinte Mil Léguas Submarinas de Júlio Verne, 1828-1905)  

                                                     Zé Perrengue, um abraço.


                                          

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu corpo dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas, Machado de Assis, 1839-1908 ou Memórias Póstumas de Brás Cubas

          Machado de Assis 1839-1908: "Qualquer um teria organizado este mundo melhor do que saiu. A morte, por exemplo, bem poderia ser tão-somente a aposentadoria da vida, com prazo certo..."
                           Machado de Assis é uma espécie de milagre... (Harold Bloom, reconhecido crítico literário de Nova York-EUA)                                          


                        A pena da galhofa e a tinta da melancolia. As amargas palavras do título deste texto fazem parte da dedicatória do sensacional livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, do notável escritor brasileiro Machado de Assis, 1839-1908 que alguns dizem pertencer a Escola do Realismo, etiqueta discutível, contudo, há uma unanimidade, é uma obra prima. Por curiosidade histórica e para situarmos melhor na literatura brasileira, lembro que Machado e Casimiro de Abreu nasceram no mesmo ano de 1839, só que Casimiro morreu com 21 anos, de tuberculose, em 1860. Neste livro um defunto, no caso Brás Cubas, se recusa a ir para o túmulo antes de narrar as suas memórias com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, na primeira pessoa o qual faz esta amarga dedicatória, colocando, logo, na segunda página "Ao leitor.", dando um toque de leve ironia. O nosso mestre nasceu no Rio de Janeiro, no Morro do Livramento, onde passou a infância vendendo balas, como engraxate, coroinha até que aos 16 anos arrumou emprego como aprendiz de tipógrafo. Machado tinha tudo para não dar certo, é uma pessoa ímpar em que o talento revelado supera a sua extrema pobreza, a epilepsia, que a respeito dizia "sentir umas coisas estranhas" e a gagueira, ademais, era mulato em um país que sempre pretendeu ter ares de europeus. Segundo alguns estudiosos parte do livro foi escrito em Nova Friburgo, ou melhor, parte dele foi ditado a sua mulher Carolina, nesta época Machado estava com uma inflamação cronica nos olhos e temia ficar cego. Não podemos esquecer que o nosso mestre teve uma grande ajuda de Maneco Almeida, Diretor da Imprensa, já famoso quando Machado foi trabalhar como aprendiz de tipógrafo, esclareço que Maneco é Manuel Antônio de Almeida, autor, simplesmente, de Memórias de um Sargento de Milícias, uma das melhores, no meu entendimento, obras da literaturas brasileira, livro que acho indispensável e que recomendo, os vestibulandos que o digam. Este livro só teve uma edição, ficou esquecido por quase cem anos quando foi redescoberto por Mário de Andrade, na época, no Rio afrancesado e formal, o riso provocado por um herói pândego e pilantra não era levado a sério.


                               O nosso herói quase foi demitido e a grande ajuda. É fato histórico que o superior hierárquico ao comentar com Maneco Almeida que o jovem Machado recém contratado era pego matando trabalho em um canto lendo um livro queria a sua demissão. Maneco, em sua inteligência literária, viu em uma pessoa que gostava de ler, coisa raríssima ontem e hoje algum talento e fez foi promover o nosso herói. Aqui vai outra lembrança de Maneco, morreu em um naufrágio do navio Hermes, na costa do Rio de Janeiro em 186l, aos 30 anos de idade.   

                               Brás Cubas. O livro é uma crítica sutil à sociedade abastada do Rio de Janeiro onde milhares de Brás Cubas, criados e mimados no luxo, com requintes franceses, se torna bacharel em Coimbra e que em seus empreendimentos criam produtos hilariantes como O Emplasto Brás Cubas. Pessoas que se regalam com prostitutas como Marcela, na juventude, à custo de alguns contos de réis. O personagem no final, ainda, diz que saiu no lucro, apesar da vida estéril.
                          

                               Livro histórico. O defunto ou Brás Cubas tinha sido um garoto  rico, mimado, mocinho displicente, um adulto pernóstico, privado de compaixão e de generosidade, além de condescendente consigo próprio. Este livro não é uma obra qualquer, faz parte da história da literatura brasileira. Foi editado em 1881 e causou na época muita polêmica. Ruptura com a narrativa linear. É histórico na literatura brasileira por não ser uma obra linear, ou seja, começa de trás pra frente, daí a primeira pincelada de genialidade. Não é só isso, Assis era culto e usava conhecimentos e outras obras em seus textos, a isso chamamos em literatura de intertextualização. Só os grandes sabem intertextualizar, só Machado sabe ser irónico, debochar de tudo e de todos com leves gotas de humor negro, tudo na intertextualização. É histórica também em razão da obra machadiana ser dividida em duas fases: antes e depois de Memórias Póstumas de Brás Cubas que inaugurou a fase realmente maior de suas obras. Alguns pesquisadores encontram semelhanças entre esta obra e a do francês Laurence Stern, autor de Tristan Shandy, um gigante da literatura francesa.

                              Originalidade. Machado saiu do usual na nossa literatura e com pinceladas de ironia, com o fino do humor negro e com algumas nuances de filosofia, em uma subversão radical, criou um dos melhores livros brasileiro. Um dos maiores críticos da época ou Sílvio Romero fez comentários acerbos sobre a obra: "Vê-se que ele apalpa e tropeça, que sofre de uma perturbação qualquer dos órgãos da palavra. Ele gagueja no estilo, na palavra escrita como fazem outros na palavra falada." Machado era gago e isto pegou mal para Romero, pontos para Machado que conseguiu a polémica em que Sílvio enfiou os pés pelas mãos. Mais tarde Sílvio Romero, Machado de Assis e outros fundariam, a academia Brasileira de Letras em 1896, instituição que Machado foi o primeiro presidente ocupando a cadeira n° 23, a qual tem como patrono José Alencar, falecido em 1877, e amigo do nosso mestre.

                               Há na obras belas pérolas machadianas, sobre o amor de Brás com a prostituta Marcela, o narrador defunto sentenciou:

                                               "Um amor que durou onze meses e cinco contos de réis..."
                                                   

                                     O capítulo cinquenta e cinco é, surpreendente, achei sensacional, ao descrever com todo o pudor machadiano o auge do amor entre Marcela e Brás Cubas, o qual cito literalmente ou os pontos, as exclamações e as interrogações ou o velho diálogo entre Adão e Eva. Deverasmente, o auge do amor é cheio de interrogações, pontos e exclamações, ao depois, contudo, pode vir o silêncio tumular entre os casais, sem nenhuma exclamação, interrogação ou ponto, outrossim o nome do título O Velho Diálogo de Adão e Eva veio a calhar:

                                               Capítulo LV - O Velho Diálogo de Adão e Eva

                                                Brás Cubas . . . . . ?
                                                Virgília . . . . . .
                                                Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
                                                Virgília . . . . . . !
                                                Brás Cubas . . . . . . .
                                                Virgília . .  . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
                                                Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . . . . . .
                                                Virgília . . . . . . .
                                                Brás Cubas . . . . . . . . . . . . ! . . . . . . . . !. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . !
                                                Virgília . . . . . . . . . . . . . . . . . ?
                                                Brás Cubas . . . . . . . !
                                                Virgília . . . . . . . !


                                O final do livro, famoso e antológico, também é irónico e mordaz, quando o morto, finalmente, querendo ir ter com o repouso eterno, confessa para o leitor em um tom de ironia e pessimismo no último capítulo denominado de Das Negativas, por sinal :

                              Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.


                                      Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria, é uma das melhores lembranças que machado nos legou. Esta frase é famosa, é o próprio Machado, casado com Dona Carolina, falecida quatro anos antes ou em 1904, conhecido como o Bruxo do Cosme Velho, assim como o seu personagem não teve nenhum filho, viúvo, sozinho, doente e pobre, Machado morreu às três horas e quarenta cinco minutos do dia, padecendo de um doloroso câncer na boca e suas últimas palavras ao nosso grande escritor José Veríssimo foram: -A vida é boa! Pelo menos algo de positivo ocorreu, a cidade do Rio de Janeiro no ano de 1908 parou para acompanhar o seu enterro. Rui Barbosa discursou no cemitério São João Batista e um ano depois, Olavo Bilac, também amigo e fundador da academia brasileira, na Rua Cosme Velho, n° 18, na janela do sobrado, onde o nosso escritor vivia na época do seu passamento, ocasião em que se inaugurava uma placa em sua homenagem.


                                    Esposo amoroso. Nesta época em que o amor parece esfarelar na descartabilidade eletrônica e virtual, é surpreendente ver o nosso mestre mostrar tanto carinho, tanto amor pela sua esposa, a portuguesa Carolina com quem viveu quase quarenta anos. Machado contava em morrer primeiro que ela, temia não dar conta de cuidar de si e a solidão. Como poeta Machado de Assis dedicou a ela o mais lindo dos poemas brasileiros ou A CAROLINA , também conhecido como "Ao pé do leito derradeiro".  Ao pé do leito derradeiro, expressão que tenho como perfeita ainda mais complementada pelas pobre querida e trago-te flores - restos arrancados da terra ( a redução das flores a restos arrancados é genial):



A CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas desta longa vida.
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe o afeto verdadeiro
 Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
                                                           
Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos


 


Carolina, falecida em 1904

 
E ora mortos nos deixa separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulada,

São pensamentos idos e vividos.

                             Também fez um desabafo contundente em relação as suas saudades de Carolina:

                            "Foi a melhor parte da minha vida e aqui estou só no mundo...Éramos velhos, e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor, primeiro, porque não acharia a ninguém que melhor me ajudasse a morrer; segundo, porque ela deixa alguns parentes que a consolariam das saudades e eu não tenho nenhum. Os meus são os amigos, e verdadeiramente, são os melhores; mas a vida os dispersa, no espaço, nas preocupações do espírito e na própria carreira que a cada um cabe. Aqui me fico por ora, na mesma casa, no mesmo aposento, com os mesmos adornos seus. Tudo me lembra a meiga Carolina. Como estou  à beira do eterno aposento, não gastarei muito tempo em recordá-la. Irei vê-la. Ela me esperará."                   


                            O autor comenta o livro. Machado é o mínimo do necessário na literatura, não deixe de apreciar esta obra que faz parte de sua famosa trilogia juntamente com Dom Casmurro e Quincas Borba. Nada melhor que algumas parcas palavras do próprio autor falando das memórias:

                          "Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não foi difícil antever o que pode sair deste conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual, ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião." 
                                     
                                "Há na alma desse livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo  e áspero, que está longe de vir dos seus modelos..."

                           Nos finalmentes e queijandos. Seria Memórias Póstumas o melhor livro da literatura brasileira, como alguns afirmam ou é Dom Casmurro, belas teses e antíteses que espreitam a literatura brasileira? Outrossim, há uma discussão elevada nas letras brasileiras sobre quais seriam os melhores contos machadianos. Caríssimos, toma lá o nosso singelo palpite: O Alienista, divertida brincadeira sobre a loucura, Anton Tchekov, um dos nossos escritores russos favoritos, escreveu um conto parecido, um dos melhores do mundo ou Enfermaria Número 6, esclareço que os dois não se conheciam pelas obras: Teoria do Medalhão, se os jovens prestassem mais atenção nestes conselhos, já seriam velhos experientes; Ideias de Canário, sobre os homens o canário filósofo do conto teceu os seguintes comentários que gosto tanto e fica marinhando no nosso cerébro: "Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se lhe devesse pagar os serviços, não seria com pouco, mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo.", vislumbrei a intenção do autor, através do canário, em dizer que as verdades são relativas, algo às vezes difícil de entender; um  conto sensacional que coloca as ideias de canário em confronto com as do homem que aprisiona um pássaro; não esqueçam do conto O Enfermeiro em que este mata o paciente e a grande ironia do destino, o punctum dolens do conto, a vítima, secretamente, em testamento, havia deixado todos os seus bens àquele;para uns e verdadeiros para outros; A Cartomante; Pai Contra MãeNoite de Almirante, onde o nosso mestre coloca o marujo Deolindo Venta-Grande em uma situação constrangedora, é o conto da decepção onde os juramentos são apenas frivolidades para uns e verdades para outros; O Espelho, um estudo sobre a personalidade. De todos eles acho perfeito e filosófico Ideias de Canário, não canso de dizer  que ele soube, como um mestre, relativizar a verdade, colocando a verdade na boca do homem e depois no bico do pássaro. É um conto esquecido pois não vejo este escolhido entre os melhores, nas relações que encontro, ao contrário de Noite de Almirante, exemplificativamente, que sempre aparece, e outros. Como gostamos de por as idéias para dialogarem, ao lado do nosso milagre, colocamos outro gigante, Arthur Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão, apreciado por ele, algo raro em sua época, mostrando que ele sempre esteve e está na frente da maioria dos homens. Só que este tem um pensamento, na maioria das  vezes bem diferente do mestre, sobre o casamento tão aprecidado por este, o alemão encerrou matematicamente: Casar-se significa duplicar as suas obrigações e perder metade dos seus direitos; sobre a imortalidade sentenciou: "Desejar a imortalidade é desejar a perpetuação de um erro."; sobre a amizade vituperou: Quem é amigo de todo mundo, não é amigo de ninguém.




                                                   
Rio de Janeiro em 1839, ano em que Machado de Assis nasceu
Arthur Schopenhauser, 1788-1860, filósofo alemão
                                           

                                                     


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Os Brasileiros, Os Axiomas de Zurique e a Esperança

Pandora


                                                Abrindo o vaso de maldades de tampa larga, digo que se os católicos tem Eva como mulher fatal, os gregos tem Pandora como o equivalente feminino. Pandora, a mulher de todos os dons (Pan: todo, tudo e dora: dons, palavra grega bem como as demais do artigo com exceção de countdown que significa contagem regressiva em inglês) foi encomendada por Zeus a seu filho Hefesto o qual da argila esculpiu a mais formosa das mulheres. Explico que Zeus queria, na verdade, se vingar dos homens, e, em especial de Prometeu e Epimeteu. De diversos deuses Pandora recebeu muitos dons e foi enviada como esposa de Epimeteu, o Adão grego. Como presente de núpcias a nossa Pandora trouxe um vaso de tampa larga, oferecido por Zeus, com a recomendação de não abrí-lo. Por curiosidade, Pandora abriu o vaso libertando todos os males que assolam a raça humana e, antes que a ESPERANÇA evolasse, fechou-o. Destarte, o mito de Pandora simboliza a perdição dos homens, a QUEDA e a sua eterna esperança por dias melhores, a esperança é a elevação energética pela vontade que algo de bom ocorra, apesar do mundo estar povoado de maldades como explica O Mito de Pandora. Já que o vaso de maldades foi aberto, devo dizer que Epimeteu significa o que pensa depois (Epi: depois e meteu: pensar, antever). Prometeu, o que pensa antes (Pro: antes, Meteu: pensar, ver,), irmão de Epimeteu, primo de Zeus, amigo da raça humana. O homem vivia na Idade do Ouro, quando Pandora apareceu. Prometeu já tinha avisado a seu irmão sobre o perigo de receber presente dos deuses, mas como não pensar depois diante de uma mulher linda e deliciosa. Assim, neste mito temos o homem, o que pensa depois, a sua queda do paraíso, da Idade de Ouro, e a mulher que libera todos os males, restando a ambos a ESPERANÇA uma vez que após a liberação de todos os males os homens passaram a viver na Idade de Ferro onde a violência ou Hýbris predomina sobre a Díke, a justiça. Os mitos são importantes pois desvendam, esplicam e consolam a natureza humana, digo até que são verdades humanas irrefutáveis. Na esperança temos o homem a querer ficar rico, lutando contra as doenças e outros males, mas, apenas estamos adiando a morte, já nascemos devendo toda a nossa vida a mãe terra, somos countdown, contagem regressiva, e por sermos countdown, talvez, a maior de todas as esperanças é a busca da eternidade, vira e mexe temos um tresloucado dizendo que isto é possível, duvido. Não se esqueçam que a mulher e a terra estão mais próximas que o homem. Aparentemente, a mulher é o mal, contudo, tomem tento que a terra como a mulher são símbolos da fecundidade, do prazer e da própria destruição, esgotam o homem, roubam lhe as sementes e o suor. A terra dá a vida e como pó voltaremos para o seio dela em contagem regressiva, como a paga do tempo. Vivemos na esperança e quando morremos, de certa forma a esperança se renova por novas vidas que virão. Venho alertando que os axiomas colocam o dedo na natureza humana e, por isso, eles são mais complexos que a maioria dos apostadores ou investidores imaginam e a filosofia, bem como, a mitologia são necessárias neste jogo bruto. Nada pode ser interpretado como a casca de uma laranja jogada ao solo, superficialmente sem mitologia.                            

                                                Os axiomas de Zurique, como não poderiam deixar de ser, viu esta essência humana, a esperança, viu Pandora cheia de curiosidades abrindo o vaso de tampa larga, vislumbrou nela um ponto frágil nos negócios, a queda dos negócios e, querendo ser Prometeu, o que pensa antes, elaborou o Terceiro Axioma Maior:

                                                       O 3º Grande Axioma: DA ESPERANÇA
                                         Quando o barco começar a afundar, não reze. Abandone-o



                                      Pois bem, vejam só, se você comprou uma determinada ação e viu que as coisas desandam não fique esperançoso que dias melhores virão, caía fora do negócio. Rezar, então, para que os negócios melhorem, nem pensar. Parece duro o axioma, mas sem dúvida, se se trata de negócio e você viu que errou, realize os pequenos prejuízos e, por conseguinte, vá em busca de outras oportunidades que sempre aparecerão no mundo dos negócios. Os ratos são os primeiros que abandonam o barco e, se trata de negócio, o certo é agir como os práticos ratos. Agora, a questão delicada que fica é mensurar quando o barco está realmente a afundar, encontrar o tempo real, encontrar Cronos, o deus do tempo absoluto. O mercado de ações, exemplificativamente, sabe muito bem que para colher os frutos é preciso balançar as árvores, ora, ora e ora, se o mercado de ações  é manipulável, muitas vezes os incautos confudirão o balançar da árvore com o barco a afundar. Este detalhe, pode ser crucial em seus investimentos com ações ou em qualquer outro negócio, tome cuidado, não confunda riscos com ruídos de árvores.



                            Para que você se livre de esperanças que poderão lhe levar a ruína é necessário que você aprenda a assumir pequenos prejuízos e, por isso, complementando o terceiro axioma maior da esperança temos o quarto axioma menor:


                                                             4º Axioma Menor:

                                                  Aceite as pequenas perdas com um sorriso, como fatos da vida. Conte incorrer em várias, enquanto espera um grande ganho.                                             


                                                    Assim, se o barco está a afundar, o melhor é cair fora, sempre atento que no mercado acionário pode só estar ocorrendo o balançar das árvores, a colheita dos frutos, momento em que você deve permancer firme em seus investimentos. Quando encontrar razões reais para pular fora do barco, você, como investidor disciplinado terá que ter o hábito de assumir pequenas perdas, aceitar que o barco, às deveras, está afundando, acreditar que é melhor assumir pequenos prejuízos do que alimentar ESPERANÇAS, tudo com sorrisinhos leves no rosto. Não há ganho sem perdas, uma regra básica e sólida, sentenciada, sintetizada, na miséria dos prejuízos.

                                                   Três obstáculos para abandonar o barco que afunda. Segundo Max Gunther as pessoas tem dificuldade de deixar o barco por três motivos:  1º) Medo do arrependimento ou abandonar o investimento e ele reagir logo depois; 2º) dificuldade em assumir perder parte do capital aplicado; e, 3º) admitir que errou, muitas pessoas tem dificuldades de assumir erros, o lema é, nunca erro. Só que da mesma maneira que a esperança está entranhada no homem, o erro também está e, errare humanum est (o erro é humano), velha máxima latina. Difícil, Max Gunther, é pensar antes, a nossa sina é pensar com lucidez só depois do ocorrido, do leite derramado, afinal, somos filhos de Epimeteu, o que sempre pensou depois. Quando menos se espera, até por simples esquecimento, você trairá a si mesmo e cairá nas coisas da vida cheio de esperanças, em novos projetos ou negócios, e por que não, em novas ações. Como o lobo perde o pelo, mas não perde o vício, o homem perde tudo mas não perde as esperanças, estas são as faíscas da natureza humana. Assim, ninguém pode negar que o investimento também é uma esperança. Outro fato que pode ser incluído neste axioma menor é que a dor da perda é horrível, um pesadelo entre Équidna, Tífon, Medéia, Esfinge, Hidra de Lerna, Cérbero, Ortro, Sereias atropofágicas e outros maravilhosos monstros gregos, se você ganha, muitas vezes não se sente tão bem como se tivesse ganhado, o ganho você acredita que é apenas um pagamento justo pelo seu esforço, nada a comemorar, você merecia muito mais. Este pensamento pode não ser muito correto, maximizar a dor da perda e minimizar o sabor do ganho, uma questão a ser debatida, uma vez que o melhor aprendizado, o que produz regras de ouros, infelizmente, é o  moldado nas forjas de Hefesto, o pensamento construído na dor, na mulher, neste exato momento é que surge a ingratidão humana pelo ganho e o pior, ela quase sempre não é percebida. A dor é um presente de Zeus, é Pandora, a quem só consegue, miseravelmente, pensar depois e em razão de sua arrogância, tenta pensar antes, ser Prometeu, prever o futuro ou desafiar os deuses, algo humano, demasiado humano, lembrando de Nietsche. Uma proibição religiosa antiga era a tentativa de prever o futuro, um verdadeiro pecado com penalidade infernal, hoje fora de moda, no entanto, tem lá algum fundo de verdade, ainda, em razão de que quase todas as previsões serem tragadas pelo abismo do tempo e de certa forma trazerem a miséria e a dor. Por outro lado, há uma banalização das previsões, o sagrado travestiu em profano. Se há esperança, há previsão de dias melhores uma coisa está ligada a outra e, o quarto axioma maior trata, justamente, das previsões nossas de cada dia, assunto que tratarei no próximo artigo. Pois saber é poder desde a época em que Prometeu foi amarrado no Cáucaso, por desígnios de Zeus, que o acusava de dar aos homens o fogo sagrado, o noús, a inteligência, onde, como castigo divino tinha o seu fígado dilacerado por uma águia diuturnamente e não através de alguns pensadores que se apropriaram deste pensar. Se tudo isso é um desafio, ele é hercúleo, Prometeu tem de ser libertado por Hércules, filho de Zeus, como ocorreu na mitologia. A dificuldade da dor, no nosso entendimento, deveria de ser incluída neste axioma às claras, mas não nego que podemos fazer um interpretação neste sentido, como ousamos.



                                                  Em countdown ou fechando o vaso de tampa larga. Sem mais delongas, em seus investimentos não confunda dinheiro com esperança, você deve trabalhar a esperança e superá-la como se humano não fosse, vencida a esperança, tomado do bom métron ou do bom senso, você deve assumir pequenas perdas como coisas corriqueiras, com um leve sorriso no rosto, reconhecer erros e não ter arrependimentos, neste procedimento você deve tentar ser filho de Prometeu, o que pensa antes. Mas, no entanto, por desígnio de Zeus todo poderoso, somos filhos de Pandora, a mulher de todos os dons, e de Epimeteu, o que pensa depois, os nossos verdadeiros pais gregos, e diante de tantos males, inclusive nos negócios, só nos resta a esperança de superá-los, agora, com os axiomas de Zurique. Não podemos esquecer nunca que vivemos nos pesadelos e nas sombras da Idade de Ferro, onde a violência, a hýbris. encarcerou a Dyke, a justiça divina. Aos brasileiros cheios de esperança, na crença que os nossos males econômicos que, hipoteticamente, foram superados pelo plano real, acredito, em uma análise macroeconómica e mitológica, que ficaremos só nas esperanças, o barco está a afundar, os políticos e os economistas que sabem das coisas que o digam. O importante é que ficarão as esperanças no vaso de tampa larga, e elas se renovarão sempre. A conferir esta profecia. Toma lá, caríssimos, o nosso terceiro axioma maior:

                                                O homem é um vaso cheio de esperança, filho de Pandora, a mulher de todos os dons, e de Epimeteu, o que pensa depois.
                                                    Quarto axioma menor:
                                                    Viver é perder sempre. A dor produz maravilhosos aprendizados.
                                           

Epimeteu
                                                 

                                                             Zé Perrengue, temente aos deuses gregos.











terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os brasileiros, Os Axiomas de Zurique e a Ganância

                                       

    A ganância é um bem (Margareth Thatcher-1925)
  1.                      

                                             Prolegômenos. Como prometemos, toma lá caríssimos leitores, o segundo texto, este sobre a ganância. Fazemos um alerta em prolegômenos, que estas ideias foram cunhadas na parcimónia da nossa capacidade de compreender a natureza de assunto tão complexo e urgente, pois logo no início dos estudos vislumbramos na escuridão das verdades, mentiras e das coisas cinzentas que se trata também de assunto espinhoso de entender ou querer compreender a indecifrável natureza humana. Como sempre, a análise segue o caminho tortuoso, o método, a arte de fazer as palavras e as ideias brigarem entre si, na tese, na antítese e na miséria da síntese impossível. A ganância é uma fraqueza humana? Disse isso no texto dos Riscos Suíços e, talvez, você não tenha percebido que esta afirmação pode não ser verdadeira, e fiz isso de propósito uma vez que as ideias estão em eterna discussão. Por outro lado, a minha afirmação não poderia levar a etiqueta de moralista? Ficam as dúvidas. 

                                             Thatcher e Gandhi. Vamos procurar a ganância. Gosto da Senhora Margareth Thatcher, nascida em1925, hoje mui digníssima Baronesa de Kesteven, título por concessão da Rainha Elizabeth II, conhecida como a Dama de Ferro. É conhecida por este codinome em razão de ter ocupado o cargo de Primeira Ministra do Reino Unido de 1979 a 1990, época conturbada em que se opôs a União Soviética com veemência e aos interesses sem fim dos sindicatos britânicos e, ainda, levar a cabo um programa de privatizações. Em resumo,  a  nossa pensadora fez história pela sua atuação e foi a primeira mulher a ocupar tal cargo no Reino Unido, daí a sua sentença sobre a ganância merecer o nosso olhar atento: "A ganância é um bem." A frase ou oração é simples e contundente, toda a ganância foi levada ao status de um bem humano. Outro pensador gigante deve ser colocado ao lado da nossa Dama de Ferro, como antítese necessária, Mahatma Gandhi, que sentenciou com muita lucidez: "A Terra provê o bastante para satisfazer a necessidade de todos os homens, mas não a ganância de todos os homens." Gandhi é o que podemos chamar de filósofo da paz. Este sensacional indiano nascido em 1869 e assassinado em 1948 foi um dos maiores responsáveis pela independência da Índia em 1947.
                            Por aí vemos que a ganância é um assunto complexo como ousamos afirmar, é um dedo na alma humana. É melhor simplesmente afirmarmos que a ganância existe e pronto e por ser ela da natureza humana é imutável; outro aspecto, o mercado conhece a ganância e alia-se a ela controlando a sua e tirando proveito da alheia. O resto é o cidadão a alardear aos quatro ventos: eu não sou ganancioso, tu és ganancioso, ele é ganancioso, não sou ganancioso.... A tudo isso sempre diga: - Huuumm. Se você compreender melhor a ganância você entenderá melhor os negócios. Exemplificativamente, a frase vai valorizar mais, trabalhada no texto Minha Casa, Minha Ruína, é um exemplo de como se tirar proveito da ganância como fraqueza. É melhor irmos para o segundo axioma maior de Zurique, o qual citamos ipsis literis:

                                              O 2° Grande Axioma: Da Ganância
                                              Realize o lucro sempre cedo demais


                                               A ideia que fazemos é que os banqueiros são gananciosos. Se você fizesse uma pesquisa a respeito disso, certamente, a resposta seria afirmativa em 100%. Mas vejam só, o que um banqueiro ou investidor ou jogador profissional mais odeia é ser ganancioso, por isso a ideia de se realizar o lucro cedo demais. A ideia é ser ganancioso não sendo ganancioso. Ora, ora e ora não sendo gananciosos os racionalmente gananciosos realizarão os lucros cedo demais e pelo Princípio do Efeito Inverso ou Princípio do Cedo Demais eles conseguirão os seus objectivos atacando justamente o que de certa forma almejam, agora, os incautos não tomarão tento de sua ganância e, por isso, mais cedo ou mais tarde entregarão tudo ao mundo dos negócios


                                               Esta regra no meio acionário é de ouro uma vez que uma determinada ação hoje vale x e, num átimo, não vale dez por cento deste valor, então, o cedo demais passa a fazer muito sentido. Nesta ideia o melhor negócio é comprar de manhã e vender à tarde ou o popular day trade (Negócio diário)


                                               Na verdade este axioma instrui o investidor com a sabedoria suíça de colocar a ganância como uma aliada em seus investimentos. Deixe a ganância para os outros ou os riscos maiores, controle a sua ganância, não esqueça nunca que quem tudo quer tudo perde. Afinal de contas, em bolsas de valores ou em qualquer outro negócio nunca diga que obteve o dobro, o triplo e assim por diante em seu investimento se ainda não realizou o lucro. Uma das deduções ou reduções desta regra é que lucro bom é lucro no bolso, vi alguns foristas dizerem isto, achei sensato e muito condizente com o axioma da ganância. olhar sintético ou o resumo do resumo, da secagem do bagaço, no ponto final, ou na linha de chegada o que vale é o lucro e ele é só possível e real no bolso, lucro virtual deixe para o mercado. Esta sentença, outrossim, se relaciona com a própria Física uma vez que o que não está metaforicamenteno no seu bolso, não pode ser considerado como uma verdade, como uma realidade material, apenas uma probalidade, talvez, alimentada pela tresloucada ganância, enfim, um perigo.


                                            A utilidade da ganância alheia. A ganância é da essência da natureza humana, se você não tem nenhuma ganância, interesse, vaidade ou desejo você não é humano, impossível. O importante é aprender que o mercado trabalha com a ganância alheia, com a ganância humana e, sabiamente tenta controlar a sua e racionalizá-la ao extremo e neste jogo até a matemática é usada, cálculos são feitos e refeitos. Alguns ingênuos não se dão ao trabalho de prestar a atenção na profundidade da ganância. Exemplificativamente, quando o mercado cria as chamadas pirâmides ou esquema de Ponzi eles trabalham com a ganância da vítima, ou seja, as vítimas não são apenas vítimas, mas são vítimas gananciosas, a pior espécie de vítima, isso é um erro crasso, não seja, nunca, otimista em matéria de negócios ou conte com a possibilidade de ganhar sempre. Um lucro de um por cento ao mês em uma empresa é um lucro considerado muito bom. Agora, pirâmides que prometem lucros fantásticos, como multiplicar o capital em pouco tempo, só se você conseguir o timing do esquema que geralmente é favorável aos primeiros que tomam a água deste pote, o certo é que ele vai literalmente explodir, mais cedo ou mais tarde.


                                                          No texto Minha Casa, Minha Ruína disse que muitos investiram ou investem em imóveis com um argumento muito simples do vendedor: vai valorizar mais, só que nada se valoriza pra sempre, nada sobe pra sempre, o que sobe cai, o que cai poderá nunca mais subir.


                                                           Por outro lado, em uma antítese, podemos dizer que reduzindo a sua ganância, você estará reduzindo as suas chances de ficar rico?  Porque não? Porque sim?


                                                           Linha de chegada.  Esse axioma é muito mais filosófico do que muitas pessoas imaginam, vejam, pensem, se você não realizar o lucro esperando as triplicações quando já dobraram, depois quadruplicarem você não terá linha de chegada. Qual corrida que você está participando? Dos 100, 5000, 10.000 ou da maratona. O dinheiro, outrossim precisa de um final feliz, de um The End, de uma linha de chegada. O dinheiro não pode esgotar em si mesmo pois aí a ganância dará às mãos à avareza e o dinheiro perderá todo o sentido. Nunca confunda ganância com avareza. O dinheiro precisa de um repouso de uma reta final, por isso complementando o axioma acima temos o terceiro axioma menor:


                                                              Entre no negócio sabendo quanto quer ganhar; quando chegar lá, caia fora.


                                                         Manada de ganância. Frequentar fóruns sobre ações pela internet é prazeiroso e um aprendizado, com o passar do tempo, e nestes locais  você pode acompanhar manadas de investidores, mantidas pelo pior das ganâncias, a ganância cega. Chega a ser um espetáculo, é espetáculo em razão de você perceber que estão a criar uma bolha, uma pirâmide, ou seja lá o que for, em que alguns investidores praticamente cegos estão se dirigindo para o abatedouro de dinheiro. 


                                                         A epilogar. Em resumo, a ganância é da natureza humana e o mercado ao contrário do que muitos pensam não quer ser ganancioso, para ser ganancioso ou apostador, ou seja, para se ganhar é necessário não ser ganancioso. Por outro lado, o mercado conhecendo a ganância cega, joga com ela. Ademais, caminhar entre Thatcher e Gandhi trará muitas luzes em nosso caminho tortuoso e íngrime e não se espante se ficar irremediavelmente perdido, andando em círculos.  Toma lá, caríssimos, dois outros axiomas de nossa lavra complementando os de Max Gunther



                                                        A ganância é da natureza humana e ponto final. É o meu Segundo axioma maior. Terceiro axioma menor: O mercado trabalha com a ganância humana em seu favor.


Mahatma Gandhi - 1869-1948


                                                                Zé Perrengue.