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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um cisne negro em nossas vidas


                                                  

Os cisnes negros são encontradiços na Austrália





                                                                        Meu conselho é para que os investidores sempre acreditem naquilo que for mais inusitado. Como Karl Popper dizia, não importa quantos cisnes brancos você veja ao longo da vida. Isso nunca lhe dará certeza de que cisnes negros não existem. NASSIM TALEB



                                                            Black Swan.  Nos investimentos a expressão black swan ou cisne negro significa o exsurgimento de um fato visceralmente inesperado que pode levar o investidor a se haver com grandes perdas ou problemas. São características do cisne negro a surpresa do acontecimento e o impacto causado. Destarte, temos a surpresa e o impacto como seus elementos fundamentais. Na verdade um black swan nada mais é que o estudo científico da Teoria do Risco. Percebemos no nosso empirismo que da mesma maneira que o brasileiro não gosta de abordar a temática da  morte, não gosta de abordar riscos em seus investimentos. Preferem bater na mesa por três vezes a conjurar os maus agouros, algo como Alice deslumbrada no mundo das maravilhas. Só que este comportamento traz uma perda ao planejamento estratégico com metas ousadas e manejamento de riscos. Se algo é bom e perfeito, se o investimento é acima de qualquer suspeita e perfeito, nunca podemos olvidar, no entanto,  que tudo que é verdadeiro e perfeito também merece o questionamento ou a destruição de suas teses. Os filósofos já vislumbraram  isto, pois o mundo é física ou puro movimento em que as coisas se pagam umas com as outras em mudanças constantes. Tese sem antítese é um pulo no precipício das trevas, a própria perda do movimento, da mudança. É negar a vida e tentar encontrá-la no paraíso perdido post mortem.

...tudo que é perfeito merece ser destruído...
                                                           

                                                            Como exemplo de um black swan podemos mencionar o ataque de 11 de setembro nos Estados Unidos. Foi algo totalmente inesperado e que mudou o mundo desde então. Se isto não tivesse ocorrido provavelmente Sadam Hussein ainda estaria no poder e os Talibãs no governo do Afeganistão.

                                                            
                                                            Quem vulgarizou a expressão black swan foi Nassim Nicholas Taleb em seu livro The Black Swan. Nesta obra Taleb quer nos alertar que na verdade os cisne negros não são tão imprevisíveis assim, ou seja, em uma análise mais pessimista dos investimentos nós devemos colocá-los em nossas perpectivas ou, ainda, devemos estar sempre preparados para os imprevistos com a certeza que algum dia um imprevisto ocorrerá. E o melhor, lidar com os riscos e até enriquecermos com ele não só em termos de dinheiro mas em nossas vidas. A pobreza intelectual leva à pobreza material e o contrário é uma verdade.


                                                              Essa ideia não é nova, A Teoria da  Lei de Murphy é bem parecida com a do Cisne Negro e até a expressão brasileira avoenga que cautela e caldo de galinha não fazem mal à ninguém guarda os princípios desta teoria.


                                                               O que Taleb quer em sua obra é que o  investidor entenda que muitas vezes, em uma calma aparente, podemos estar na iminência de um desastre em que se estivermos do lado certo podemos levar tudo ou perder tudo.  Aqui lembramos da frase inglesa The Winner Takes It All ou o vencedor leva tudo, no caso o perdedor não leva nem prêmio de consolação com o adventício de um cisne negro. Por falarmos em The Winner Takes It All lembramos da música do conjunto sueco ABBA, por sinal muito bonita e sintomática. Merece um áudio.

                                                                    Ao contrário do que muitos imaginam, Taleb está sempre vendo cines negros no horizonte, correndo atrás do perigo e tentando faturar com ele. Tanto é que é um dos mais bem sucedido investidor do planeta. Na atual conjuntura do mercado de ações ele mesmo não indica tal especulação como muitos pensam. Nunca se esqueçam que, certamente, se colocar em risco não é comprar os chamados micos do mercado de ações. Alguns destes micos até com nuances de golpe. Correr risco não é ser vítima de um crime, participar de um jogo de cartas marcadas, de pirâmides e etc., pois nestes casos nós não temos nenhuma chance contra os criminosos. Não é um jogo com os riscos devidos e assumidos. O grande desafio é separar riscos calculados de loucuras ou de pirâmides. O investidor brasileiro, exemplificativamente, ainda conta com um ambiente de investimento totalmente adverso, ou seja, os nossos governantes não são de confiança e o mercado sabe disso. No Brasil se cultua um rancor dissimulado contra o investidor honesto e bem sucedido isto em razão da pobreza reinante, ao contrário dos EUA. Esclareço isto em razão de lermos livros que foram escritos em outros ambientes econômicos.
 
 
                                                             O interessante na obra de Taleb é que ele tenta nos mostrar que na maioria das vezes gastamos o nosso tempo em analisar o que já ocorreu, quando seria interessante tentarmos compreender o que pode ocorrer acompanhado de um evento extraordinário e de grandes proporções. No Brasil, as surpresas econômicas não são tão impensáveis assim. De quando em quando o governo está interferindo na economia, como exemplo citamos os juros que agora em Outubro de 2012 estão abaixo da inflação. Isto alguns anos atrás seria impensável. Agora, devemos ficar atentos onde isto nos vai levar em termos econômicos. Se os juros caem as ações deveriam de subir, se os juros ficassem abaixo da inflação as ações deveriam de explodir. Não foi o que ocorreu no ano de 2012.
                                                           A Teoria do Risco não serve apenas para investimentos, serve para nossa vida prosaica ou para o nosso ramerrão diário. Não agimos, diuturnamente, como se estivéssemos em constantes riscos. O nosso instinto, a nossa vontade de potência, faz com que esqueçamos a fragilidade do biológico, da vida. Os riscos são tão traiçoeiros que o simples fato de sairmos à rua deve ser levado como um risco mortal, com um cisne negro sempre oculto nas variáves tempo e espaço, pois em um banal atropelamento e tudo se acaba em uma fração miserável de alguns segundos. Sem embargo disso, tudo na verdade é previsível, como um cisne negro é previsível, esclarece Taleb. Nas ciências políticas,

                                                                                                                        ...não é possível ter certeza de que uma teoria é verdadeira, apenas comprovar que ela é falsa. Ou seja, toda teoria válida simplesmente não foi provada falsa ainda...


                                                                      Karl Popper. Taleb, um libanês nascido em 1960 e radicado nos Estados Unidos, possui MBA pela Wharton e PhD pela Universidade de Paris, é um grande matemático, e o que eu acho melhor, fã de Karl Popper, um dos maiores filósofo do século XX. Este gosto por Karl Popper fez nos interessarmos por Taleb. Podemos dizer, sem maiores delongas, que ambos são, visceralmente,  céticos. Gostamos muito dos céticos e sempre orientamos as pessoas que conhecemos a serem céticas ou não acreditem, duvidem, critiquem, investiguem, questionem, certifiquem e coloquem gosto ruim em tudo como se fossem uma barata que não come quase nada e estraga tudo, tudo de maneira cavalheiresca e educada, até se calando em situações adversas ou nas trevas em que o seu cimento é a ignorância profunda, mas no íntimo questionando e com outras convicções. Fique atento, não devemos entrar em polêmicas com os adoradores de teses mastigadas por outras pessoas e que, por conseguinte, não gostam de antíteses, pois estas pessoas são periculosas. Devemos agir assim, em razão do  rebanho ser triste, pobre, sem imaginação e acabar virando comida de onça esperta. Para termos uma ideia do pensamento espistemológico de Karl Popper digo que, em resumo, ele afirma que não é possível ter certeza de que uma teoria é verdadeira, apenas comprovar que ela é falsa. Ou seja, toda teoria válida simplesmente não foi provada falsa ainda. Este pensamento é surpreendente, um soco na cara de todas ciências. O pensamento abre uma janela importante, ou seja, a janela de que tudo mudará, a possibilidade da verdade se tornar mentira e a mentira se tornar verdade, tudo cozinhado no fogo lento do caldeirão do tempo se torna uma certeza maior. Para aqueles que acreditam nas ciências como dogmas e em investimentos seguros, não há maior ceticismo do que o de Karl Popper. Esclareço que Epistemologia em outras palavras é a ciência na mesa de anatomia, ou a filosofia questionando a ciência como se ela estivesse escondendo um monte de mentiras. Karl Popper vale a pena, é um pensamento básico que não pode ser olvidado por ninguém, muito menos pelos investidores. O nosso filósofo cunhou a expressão racionalismo crítico para o seu pensamento em oposição ao chamado empirismo clássico ora reinante em muitas escolas filosóficas. Só este questionamento já é um grande feito. Popper é um defensor intransigente da chamada sociedade aberta tanto é que escreveu uma grande obra chamada A Sociedade Aberta e os seus inimigos e outras interessantes como Televisão: um perigo para a democracia. O filósofo ensina-nos a tentarmos, exemplificativamente, descobrir onde está o erro, talvez, a mentira de uma ciência ou de uma teoria científica. Se não tentarmos não descobriremos. Esta sagacidade filosófica levada aos investimentos é interessante e profunda e Taleb tenta nos levar para este caminho, alertando-nos que não adianta olharmos sistematicamente pelo retrovisor, já que o futuro, este sim, pode ser diferente, pode ter um cisne negro nunca antes visto. Padrões antigos nem sempre se repetem no futuro. É até assustador verificarmos que competimos com investidores que apreciam e usam Karl Popper e outros à altura, no desenvolvimento de suas teses. Benjamim Graham, outro grande investidor, também não fica atrás em termos de conhecimentos literários e filosóficos, o qual chegava a ler os grandes clássicos em grego.


               ...não é possível ter certeza de que uma teoria é verdadeira, apenas comprovar que ela é falsa. Ou seja, toda teoria válida simplesmente não foi provada falsa ainda...                                                       
                            
                                                                         Como exemplo da fragilidade de nossas ciências temos A Teoria da Física Clássica de Newton substituída  pela Teoria da Relatividade. A física não sabe nem o que é a matéria em sua essência, recentemente, os cientistas bateram cabeça tentando lidar com a partícula de deus ou bóson de Higgs. Nas ciências jurídicas sempre predominou o princípio geral que o casamento só era possível entre sexos opostos. O STF cor de rosa provou, cientificamente, o contrário. No entanto, acima deste princípio de sexos opostos, está o princípio de formas diferentes de felicidade reconhecido por este tribunal. Assim, fica provado que toda ciência é provisória, o Direito, então, inquestionável a sua provisoriedade, talvez nem ciência seja, ou é apenas um manual de regras mal elaboradas por políticos corruptos.





                                         ... Nas ciências jurídicas sempre predominou o princípio geral que o casamento só era possível entre sexos opostos. O STF cor de rosa provou, cientificamente, o contrário. Pois, acima deste princípio de sexos opostos, está o princípio de formas diferentes de felicidade reconhecido por este tribunal em um julgamento histórico...

                                                                       Seus amigos dizem, que Nassim, fluente em inglês, francês, árabe clássico, além de outras línguas, se parece com o escritor Salman Rushdie, contudo ele prefere ser comparado com o escocês  Sean Connery. É mole!
                                                               

                                                                         O livro é divertido e surpreendeste.
                                                                 
                                                      

2 comentários:



  1. É um caso clássico. Faço a ressalva que observo a ação há uns três anos e nunca vi nwenhum fundamento real no ativo, apenas especulação. As três pragas do petróleo nunca falham. Um abraço.

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