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quarta-feira, 30 de maio de 2012

A didática da dor de uma bolha



Uma bolha tem vida efêmera


...This times is different...


...a dor dá de graça o melhor aprendizado...

                                                              Há mais coisas entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia imagina e foi por isso que dissemos que havia uma bolha imobiliária no Brasil no começo de 2011 no texto Minha Casa, Minha Ruína. Recentemente falamos sobre a bolha veicular que explodiu agora em maio de 2012. Na verdade existem no mundo milhares de bolhas espalhadas e muitas estão explodindo aqui e acolá. A imprensa panos quentes não orienta como deveria de orientar, daí a importância dos blogs tratando destes assuntos. Existe até a bolha imobiliária francesa que promete muito. Não é questão de colocar fogo e sim iluminar a verdade com o Fogaréu, eis a questão. O mal e a mentira, como ferramenta deste, têm força, já a verdade passará esta fase mendigando compreensão. Muitos entram sabendo que a festa é curta e deve se retirar dela antes que seja tarde. Vide o caso San Zell que se retirou do ativo GFSA3 muitos meses antes que a coisa começasse a estourar. Nos fóruns vi incrédulo investidores dizendo que o ativo ia subir. Ora essa, se um tubarão caiu fora, o que será das sardinhas nesta corrente. Este ativo já esteve em mais de R$ 30,00, agora em 2012 você compra por menos de R$ 3,00.

                

                                                                Para o nosso aprendizado prestem atenção nas fases de uma bolha imobiliária, uma bolha que podemos chamar de clássica:


                                                               Primeira fase. Havemos-nos no tédio, as mãos coçam as algibeiras. Sentimos-nós como Sísifo empurrando uma pedra morro acima e, depois de todo o esforço, ela rola abaixo. Estamos dispostos até a caçar chifres na cabeça de cavalos. O nosso cerébro precisa de estímulos. Sentimos-nos preparados para uma aventura já que a vida muda muito pouco.


...didática divina da dor...

                                                               Segunda fase ou a fase da euforia. Logo alguém inventa uma corrente diferente. Nesta segunda euforias amealha mais euforias, a filosofia que predomina pode ser resumida em uma frase inglesa, This time is different ou desta vez é diferente, o crescimento é consistente. Esta idéia é regada por idéias como há um déficit muito grande de veículos, imóveis, relógios Rolex, sexo e etc. Não dizem que a população continua pobre, ignorante e que está se endividando de maneira periculosa. O governo joga a sua bolinha de enxofre incentivando a bolha e afirma que agora a ralé tem governantes. A arrecadação aumenta e o dinheiro vai em grande parte para a corrupção. O governo dá uns trocados destes impostos para a patuléia e um pacto de mediocridade é formado, ou seja, o governo finge que governa e o povo finge que é governado. Grandes caciques são forjados na demagogia do oba-oba. A oposição sai de cena ou fica enfraquecida, lamenta ter perdido o time político, muitas vezes por ter preparado a cama para o outro usá-la em um governo de reformas e impopular. A ralé não quer saber de nada, não pensa no futuro, é patriopança, ou seja, a sua pátria é a sua pança. Este tempo não existe para eles e a regra que vale para eles é que Deus tudo arranja. Correto, só que com muita dor, pois ele é pai e carrasco, se não for assim o homem não aprende. É a didática divina da dor. Devemos relembrar sempre que o homem na mitologia grega é filho de Epimeteu, o que pensa depois, literalmente falando. O desafio é pensar antes, é nisto que nós nos devemos concentrar dia e noite, sem embargo de na idade média ser um grande pecado tentar prever o futuro. O sonho é ser Prometeu, irmão de Epimeteu, o que pensa antes, o maior benfeitor da humanidade, que entregou a esta o fogo celestial ou a inteligência.

....patriopança...
                                                                  Terceira fase ou da negação da bolha. Quando a bolha começa a mostrar pequenos sinais ocorre uma negação sistemática levada a cabo por pessoas dolosas que estão atolados no negócio até o pescoço, estes sabem que não existe crescimento ad infinitum em nenhum setor. Os ingênuos formam fileiras com os dolosos e entram com o seu rico dinheiro em negócios duvidosos como compra de imóveis na planta com preços na hora da morte, com a idéia simples, simplória, que vai subir mais. Nada sobe para sempre, muito menos uma bolha. A venda destes imóveis pode ser lá na frente na bacia das almas.

                                                                 
...a inocular na cabeça dos incautos...
                                                                    Quarta fase ou aumento do marketing. Começam a  fazer propaganda do bem a inocular na cabeça dos incautos que é a sua última oportunidade de entrar no segmento lucrativo. Inoculam através da imprensa que o cidadão está totalmente errado de não ter seguido a manada dos felizes investidores. No setor imobiliários ocorreu isto visivelmente no ano de 2010 e 2011. Se nós prestarmos atenção notaremos que o marketing aumentou muito. Lembrem daquela moça que não viu o imóvel em razão de estar no Canadá e logo arrumaram um jeito de trazê-la de lá, ora, isto é desespero, a construtora piscou e o povão não viu pois acharam a propaganda bonitinha, rimos a valer, da largura de uma enxada, do patetismo ou sentimentalismo para laçar o indivíduo e jogá-lo na manada ou na turma maria-vai-com-as-outras. Nesta fase a imprensa não fica muito animada em descer a lenha em tal tipo de investimento. Colocam uma notícia em linguagem técnica negativa aqui e acolá, mas não fazem os escândalos necessários alertando a manada. Os políticos contribuem bastante com a imprensa panos quentes com os seus barracos intermináveis que alimentarão as suas manchetes. A imprensa sabe que todo mundo aprecia a desgraça alheia. Assim, o foco que deveria mais interessar ao consumidor é desviado, ou seja, deveríamos de estar discutindo o risco da perda do pouco que os pobres e a classe média têm com as aventuras econômicas. Não é correto termos algumas alegrias em curto período de tempo e, ao depois, dores intermináveis, algo como participarmos de uma festa e bebermos todo o Whisky falsificado e... A manipulação econômica perpetua alguns políticos no poder e enriquece poucos.

                                                                            
                                                                         Quinta fase ou da entrada do governo como salvador da pátria. O crédito para comprar mais do mesmo é estimulado. Os juros baixam. Os bancos estatais entram na jogada como uma tropa de elite. A quarta, a quinta e a sexta fase são mais ou menos simultâneas. Nesta fase é difícil segurar os nossos parente e amigos abduzidos pelas bolha e colocá-los em uma camisa de força e levá-los para tomar choque. Eles querem por que querem fazer dívidas, não podem perder a promoção. Alguns exigem  que você faça o contrato em seu nome, já que eles tiveram pequenos probleminhas com o seu bom nome. É muito mais arriscado se o cidadão for corretor de imóveis de uma grande construtora. Nesta situação tente fugir para as montanhas...

                                                                           Sexta fase ou dos descontos. A bolha brasileira está nesta fase, faça uma varredura e você notará que os descontos já chegam a 30% nos imóveis novos neste começo de 2012. Não compre, não caia na armadilha que está barato, pois vai cair mais ainda. Poderá haver até imóvel a troco de picolé como já ocorre nos EUA. o que ainda salva um pouco o Brasil é um certo déficit habitacional. Fato que também pode ser contestado pela pergunta, onde moravam estes indivíduos anteriormente? Alguém poderia dizer, estão formando família com emprego na construção, como corretores, como donos de lojas de tintas, vendedores, depósitos de areia e etc. O esperto responderia: Hummmmmmm, isso também faz parte da bolha. Estes indivíduos também compraram imóveis na hora da morte ou trocaram o seu imóvel por um maior ou mais moderno sobrecarregando a oferta dos usados. Temos uma tese que a Economia como ciência não passa de uma mentira bem elaborada, tal qual a mentira do Direito, da Física que não sabe nem o que é matéria, da Religião e etc.

...não adianta pensar pra trás, o que vale é pensar pra frente...
                                                                           

                                                                        Sétima fase ou do estouro. Nesta há gritarias e acusações, a inadimplência aumenta e algumas construtoras vão quebrar. O governo desesperado tentando curar a bolha elabora um plano infalível que nem o Cebolinha, nada adianta ela explode não há remédio que cure bolha. É uma infelicidade da época que os loucos guiem os cegos. Nunca se esqueçam que o país está cheio deles, mormente na política. Trata-se de uma bolha e como toda coisa delicada o seu destino é ter vida efêmera que termina com uma explosão em maior ou menor grau. Nesta fase há acusações, advogados, promotores, boletins de ocorrência, inquéritos policiais e muita baixaria. O espetáculo é deprimente à maneira shakespeariana ou há uma mistura de tragédia e comédia. Empresas sólidas do setor quebrarão. A imprensa panos quentes fará grandes reportagens do estouro e convocará os seus economistas para analisar o ocorrido, ou seja, depois que a vaca foi literalmente para o brejo, assim, não vale. Ora, já que estourou, estourou, não adianta mais o sábio colocar palpites. O tijolo já está quebrado, isso é pensar pra trás, o que adianta neste mundo é só pensar pra frente. Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.



                                                                         Caminhos da felicidade. No texto Avestruz Master, um produto genuinamente goiano dissemos que um dos caminhos da felicidade é não acreditar em dinheiro fácil. As bolhas surgem devido ao excesso de crédito, todo mundo quer vender à prazo, com juros altos e preços salgados. Assim, se você quer realmente ser feliz, não faça dívidas. Toda dívida deve ser uma exceção.


...nunca chame contraventor de mestre...
                                                                          Na antítese. A nossa torcida é que o ideário acima não vingue. Vai sobrar tijolo quebrado pra todo mundo.


                       Com a palavra o nosso eterno mestre William Shakespeare, 1564-1616:
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..é uma infelicidade da época que os loucos guiem os cegos...
      

...há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe vossa vã filosofia... Machado de Assis iniciou o seu conto A Cartomante, um dos melhores de nossa literatura, com este pensamento.
                   ...o bobo se acha sábio, mas o sábio se acha bobo...


...lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente...

                                      ...os velhos desconfiam da juventude porque foram jovens...

...aquele que gosta de ser adulado é digno do adulador...
William Shakespeare
                 

9 comentários:

  1. Parabéns pela crônica.
    Como disse, no Sábado pós plantão, ou seja, domingo pela manhã, nunca vi tanta manchete favorável sobre Imovel. No Noroeste, aqui em Brasília, S 9000,00 o metro quadrado, na planta, mas já dão desconto sem você pedir. Um bônus, nos tratam como mentecaptos. Pode!
    Viça o dragão da campininha.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. É isso aí Askanio. Obrigado pelo elogio. É bom saber que os descontos chegaram em Brasília. Certo dia um morador daí me disse que Brasília é diferente, fiquei calado. Dez conto o metro, acho loucura ou um imóvel muito pequeno de 100 metros custa mais de meio milhão. As contas não batem com a realidade. Um abraço.

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  4. Muito bom mais um seguidor?parabéns

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  5. Cara que beleza...
    Na minha cidade o jornal virou caderno de imóveis!!

    Quer comprar???

    Atualmente quando chamam um especialista na TV a culpa é da Grécia, coitada... Não conheço a Grécia, mas sei que a pior crise dela, não passa de uma marola perto da nossa realidade.

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  6. Excelente texto!

    Acrescento:
    Num tempo nem tão tão distante (1999~2000) sites fuleiros, recem criados e sem receita alguma também eram cotados em milhões de doletas ...

    O objeto muda mais o "esquema" é identico e o resultado podemos prever pela seguinte frase:

    "Insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes."

    Abs,

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  7. Tarik Favero, anônimo e Apocalypse Now sejam bem-vindos.

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