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sábado, 30 de abril de 2011

A sabedoria do tempo

  

Albert Einstein, 1879-1855: A mente que se abre
 a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.

...elemento invisível...
                                                         Onde encontrar a sabedoria? Maybe, talvez, no tempo? Devemos procurar o tempo incessantemente, como procuramos a vida pois a vida é tempo, não há vida sem tempo humano, biológico, uma espécie de mentira, contudo, um alerta divino, não encontraremos muito sobre este elemento invisível e ao mesmo tempo não tão pouco. Não esqueçam nunca, nada é mais brutal, avassalador e aterrorizante que o tempo. Ele é pai e carrasco ao mesmo tempo, a convivência do Não e do Sim, tudo com naturalidade, algo misterioso e sagrado que tem uma péssima mania de criar e destruir, acredita que é só destruindo que se contrói e vice versa. Digo que o tempo é um monstro de duas cabeças, igual ao Deus romano Janus, com uma cabeça virada para o passado e outra virada para o futuro, de Janus herdamos o belo mês de Janeiro, o começo simbólico. Em razão da bondade e da maldade do tempo sobre a carne humana, ambos elementos, essências deste, não havemos, não temos, como não deveríamos ter a ETERNIDADE e somos seres cheios de angústia a conviver com uma grande certeza: a corrupção inexorável, pornográfica,  da carne, até a morte. Morte e tempo se ligam como as dimensões físicas espaço-tempo. Com grande angústia não entendo o porquê do criar e depois, simplesmente destruir a obra, será que o tempo, o nosso “criador”, tem um prazer secreto em costurar e descosturar, em caminhar pela escada em que os dois corrimões são o Sim e o Não. Como é difícil subir e descer esta escada olhando para o Sim e para o Não. Peço desculpas aos amigos, contudo seria o tempo a própria essência de Deus? Fica a pergunta para o sábio leitor. O tempo medido por anos, dias, horas e minutos é apenas uma medida humana, uma convenção, não uma verdade absoluta, erro cometido até pelo grande Isaac Newton (1643-1727) em sua física clássica derrubada pela Teoria da Relatividade. Dando um exemplo foi convencionado por nós humanos que um segundo corresponde a 9.192.631.770 ciclos de um tipo de radiação de césio-133, algo arbitrário, escolhido pelo homem, se é ecolhido é relativo e parcial, relatividade é uma forma de parcialidade.

...tempo humano, uma espécie de mentira...
                                                            Voltando o nosso foco aos negócios, às encantadoras riquezas materiais, digo que a praticidade americana tem como um grande representante Benjamim Franklin (1706-1790) que elaborou uma teoria fácil de ser compreendida sobre o tempo: tempo é dinheiro e por isso, baseado neste enlouquecido princípio americano estamos criando uma verdadeira arte de comprimir o nosso tempo, ou seja, temos que fazer mais e mais durante um lapso de tempo, só que assim estamos condenados a ficar presos na angústia do tempo e esta prisão é terrível e enlouquecedora. Para os físicos, filósofos e queijandos, os quais procuram a essência do tempo, ele não é um continuum, uma sucessão de fatos, do presente para o futuro, produzindo incessantemente um passado, isto é, para eles, apenas ilusão dos nossos sentidos. A percepção da passagem do tempo é uma das características básica da percepção humana, por isso comparamos a passagem do tempo como o vôo de uma flecha ou o fluxo de um rio, tudo ilusão dos nossos sentidos que sempre querem nos enganar. O fluxo de um rio ou o de uma flecha são movimentos e não tempo.    

                                                           Albert Einstein (1879-1955) disse: “O passado, o presente e o futuro são apenas ilusões, ainda que tenazes.” Para os físicos o tempo é apenas uma dimensão extra semelhante ao espaço, tempo e espaço formam um único bloco. Observem com cuidado, tempo e espaço são algo semelhantes, só que é difícil viver como se fossem algo imútavel. Por isso na física o tempo e o espaço são fisicamente blocados, não passa, nem flui. A física não resolveu o mistério do tempo uma vez que a Teoria da Relatividade de Einstein, muito festejada, não é compatível com a Mecânica Quântica, as duas são aceitas, contudo falta um principio único que unifique as duas teorias, uma teoria que explique toda a natureza, tudo que vemos e não vemos. Einstein não encontrou, morreu desconfiado da Mecânica Quântica e por isso disse uma de suas inúmeras famosas frases quando se referia a mecânica quântica mais precisamente sobre o seu Princípio da Imprevisibilidade: Deus não joga dados, logicamente se referindo a incompatibilidade das duas teorias. Ninguém encontrou a resposta até hoje. O resultado, talvez, seria encontrar Deus ou a nossa eternidade, o que de fato é o que realmente desejamos. Alguns cientistas questionam até a existência do tempo como Rovelli e Julian Barbour. Em resumo, o que muitos leitores não sabem é que passado, presente e futuro não existem, são apenas ilusões; dimensão que nem a Física explica direito; o segredo continua. Por isso ousei perguntar se o tempo não é a própria essência de Deus no início do texto.

Salvador Dali, 1904-1989. O tempo parece
 derreter
                                                      

                                                            Como a física comprova que o tempo não é uma sucessão? Não se apavorem! Acima, dissemos que não existem para a física passado, presente e futuro, algo comprovado pela Teoria da Relatividade que desmoronou a física de Newton. A teoria da relatividade diz que tudo é relativo ou por outras palavras depende do observador, de quem observa o fenômeno, se é relativo não é absoluto, se não é absoluto, depende de quem observa, então, necessariamente, é parcial, significa que não é verdadeiro. A resposta e simples, podemos saltar no tempo teoricamente, tanto para o futuro como para o passado. Fisicamente não seria impossível construir uma máquina do tempo. Como se consegue saltar no tempo?  O chamado em física Paradoxo dos Gêmeos é uma das maneiras de explicar isso. Imaginem José e Maria ambos nascidos no mesmo dia. Maria viaja pelo espaço próximo a velocidade da luz, aos trinta anos de idade. Imagine José na terra contemplando a bela viagem cosmológica por dez longos anos. Quando Maria voltar da sua viagem cosmológica, Maria  estará com a mesma idade, ou seja, com 30 anos de idade, terá saltado o tempo em dez anos. Certamente, é impossível viajar próximo a velocidade da luz uma vez que energia é simplesmente a misteriosa matéria multiplicada pela velocidade da luz elevada ao quadrado. Se isso ocorresse ou se Maria viajasse à velocidade da luz imediatamente ela seria transformada em energia e sumiria em uma pequena explosão emitindo uma luz. Em razão disso Einstein elaborou a equação física: E =M.C². Os pilotos de aviões a jato, também exemplificando, ganham alguns segundos de vida em suas inúmeras viagens, tempo imperceptível para os nossos sentidos. 

Newton do pintor William Blake
1757-1827

                                                        Poesia do tempoJá que nem os nossos sentidos, a física e nem a filosofia explicam as trevas do tempo é melhor ficarmos com uma bela poesia do tempo que consola a nossa grande angústia do tempo. Certa vez testemunhei um casamento e estarrecido ouvi o sacerdote sacar da bíblia o ensinamento da submissão da mulher. Fiquei imaginando porque as religiões insistem em ficar do tempo. Houve constrangimento. Não entendi porque abandonar a sabedoria antiga da bíblia do velho testamento. Por exemplo, gosto muito do livro Eclesiastes, supostamente escrito por Salomão, e a sua poesia sapiencial a respeito do tempo deixou-me mais calmo. Não devemos ter preconceitos, o saber sapiencial encontra-se em lugares inimagináveis.  A palavra Eclesiastes do grego Ekklesiastes foi traduzida do hebraico Koheleth. Koheleth significa congregação ou reunião e Ekklesiastes por sua vez Orador ou Pregador, o que reúne, o que congrega. O Pregador na sua época era um sábio ou, talvez, um filósofo, e, certamente levou muito conforto a numerosas almas. Vamos ao arrepiante texto do Pregador do Tempo:
                                                              

                                                                   Tudo tem o seu tempo, e há tempo para todo o propósito sob o céu;

                                                                   Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

                                                                    Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de construir;

                                                                    Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de usar luto, e tempo de dançar;

                                                                    Tempo de espalhar pedras, e tempo de perder; tempo de abraçar, e tempo de evitar o abraço;

                                             
                                                                   Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora;

                                                              
                                                                   Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de calar, e tempo de falar;


                                                                   Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
                                           A forma de se colocar o tempo acima é uma forma de descrever o homem na medida de seu tempo, ou seja, nascendo e morrendo, plantando e colhendo, amando e matando. É a aventura e a crueldade do homem no tempo.


                                                                   O texto do Eclesiastes a seguir complementa no meu entendimento o anterior do mesmo profeta. Tem um niilismo assustador sobre as mudanças, sobre o tempo que conhecemos através dos nossos sentidos e funciona como um bálsamo diante de tantas incertezas físicas:
                                                                                                                                                                                      Palavras do Pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.

                                                                    Vaidade de vaidades, diz o Pregador, vaidade de vaidades; tudo é vaidade.

                                                                        
                                                                    Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho que realiza sob o sol?

                                                                    Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.

                                                                     O sol também se levanta, e o sol se põe, e apressa-se a voltar ao lugar onde nasceu.

                                                                      
                                                                     O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; circula continuamente, e volta formando os seus circuitos.

                                                                     Todos os rios correm para o mar; contudo o mar não se enche; ao lugar de onde vêm os rios, para ali tornam eles a correr.

                                                                     Todas as coisas são trabalhosas; o homem não pode exprimir: os olhos não se fartam de ver, tampouco os ouvidos se enchem de ouvir.


                                                                     O que foi é o que há de ser; e o que se fez é o que se fará: e nada há de novo sob o sol.

                                                                     Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já existia nos tempos passados, que foram antes de nós.
                                                                       
                                                                    Não há lembranças das coisas que precederam; tampouco haverá qualquer lembrança das coisas que hão de ser, entre os que hão de ser, entre os que hão de vir depois.

                                                                     Eu, o Pregador, fui rei de Israel em Jerusalém.

                                                                     E, de coração, busquei, pela sabedoria, conhecer tudo quanto sucede sob o céu: esta árdua tarefa Deus atribuiu aos filhos do homem, para nela os exercitar.

                                                                      Vi todas as obras que se fazem sob o sol; e eis que tudo é vaidade e aflição de espírito.

                                                                      Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode contar.                                                                    
Quadro "Tudo é vaidade" de
Charles Allen Gibers,
1873-1929

                                                                       Epilogando, a intenção foi misturar física e metafísica, no tempo em que as duas matérias se entrelaçam provocando angústia no filósofo e no físico. Tudo pode ser vaidade, apenas desejo, e não nos dá nenhuma resposta satisfatória. É duro quando pensamos no tempo e percebemos que perdemos o tempo e não temos o tempo. A crueldade do tempo machuca, dilacera, dá com uma mão e toma tudo com outra, sem clemência e sem pedir licença. Por outro lado o tempo nos dá coisas belas como o sorriso de uma criança. O mistério do tempo se algum dia for desvendado é o único que nos salvaria da destruição, do grande pagamento que devemos dar ao tempo, nestas parcelas devidas ao tempo, a morte, não é só o maior pagamento, como o último. Se isto não ocorrer, como acredito piamente que não ocorrerá o desvendamento do tempo, tudo será apenas vaidade de vaidades ou desejos. Tudo eternamente inexplicável na física e na metafísica.

O tempo esvaindo em grãos de areia
                                                                             

                                                                        Zé Perrengue, tem como hobby estudar filosofia juntamente com física teórica.                                                                                                              
                                        
                                                                                           
                                                                                                                                             



  

2 comentários:

  1. "Tudo tem o seu tempo, e há tempo para todo o propósito sob o céu... "

    Sábias e profundas palavras, amigo Zé Perrengue!!

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  2. Um dos melhores artigos que eu já li *-*.
    Perfeito !!!!!

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